O carteiro

O carteiro estava entregando suas cartas. Chegou no endereço indicado. Bateu palmas. Logo, uma senhora apareceu na porta.

–– Obrigada.

Disse a senhora ao receber a sua revista.

–– Olhe. Chegou uma carta de outro endereço.

O carteiro recebeu o envelope das mãos da mulher e observou.

–– Não é muito longe. Rua Petronio Portela... José Raimun...

O jovem sibilou a ultima silaba.

–– O que houve?

–– Nada. Eu posso entregar se quiser.

–– Muito obrigada.

Despediu-se da senhora e dirigiu-se para a rua Petronio Portela. Chegou no endereço indicado. Chamou na porta e alguém veio atendê-lo.

–– Pois não?

–– Gostaria de entregar essa carta para o senhor.

–– Claro.

O carteiro observou o senhor José Raimundo por alguns segundos.

–– O senhor não está me reconhecendo?

–– Não estou.

–– Sou neto do falecido Antônio. Seu amigo.

–– Como você cresceu. Entre, por favor.

Eles entraram e começaram a andar pelo sítio.

–– Como está sua mãe?

–– Na verdade, ela está com câncer.

–– Que horror!

–– Ela vai ficar bem. Está fazendo tratamento.

–– Espero que sim.

–– Soube que estava fazendo faculdade de administração.

–– Eu conclui.

–– Por que está trabalhando como carteiro, então?

–– Quando mina mãe ficou doente, resolve abandonar a carreira. Assim, teria mais tempo para cuidar dela.

–– Que ótimo filho você é.

Raimundo abre a carta. E dentro dela há um desenho de uma ave.

–– Que linda ave. Qual nome dela?

–– É um maracanã. Foi minha neta que desenhou .

–– Maravilhosa!

–– Sim, maravilhosa. Sabia que o nome da cidade é em homenagem a essa ave?

–– Verdade?

–– Sim. Maracanaú significa lagoa onde bebem as maracanãs.

–– Deveria haver varias delas, então.

–– Havia. Aqui era conhecido como terra das maracanãs.

Os dois andaram em direção a varanda da casa. E sentaram-se nas poltronas. O jovem, mesmo sentado, continuou a reparar o lugar ao seu redor.

–– Lembro quando era criança e meu avô me trouxe para brincar aqui. Sinto falta dele.

–– Também sinto muito falta do meu amigo. Apesar de não ter completado o ensino fundamental, era uma pessoa sábia. Que entendia das coisas da vida.

–– Todos dizem isso.

–– Pois é verdade. No nosso tempo era muito difícil entrar numa faculdade. E agora, o neto do Antônio é formado em administração. Ele ficaria orgulhoso.

–– Obrigado.

–– Como as coisas mudam. Bem que Júlio César Costa Lima disse. Ele disse que ‘’Maracanaú sairia das asas das maracanãs para as asas do futuro. ’’

–– Realmente tudo está mais moderno do que antes.

–– Só eu que estou velho. Meu jovem, eu sou do tempo que Maracanaú escrevia-se com um H antes do U.

O carteiro riu. Levantou-se, logo.

–– Tenho que ir, senhor.

–– Está bem, meu jovem.

O carteiro caminhou até a porta.

–– Como é mesmo seu nome?

–– Rodolfo, em homenagem ao escritor.

Assim, ele saiu para entregar suas cartas.

Nazidy Oliveira
Enviado por Nazidy Oliveira em 31/08/2014
Código do texto: T4944225
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