Museu Imperial - Petrópolis - RJ

IMPRESSÃO III

                  
Época de férias. Carangola - outro lugar, também em Petrópolis. Chão vermelho e lamacento, manhãs nevoentas e frias. O bairro ficava um tanto afastado da cidade e estava, ainda, em desenvolvimento. esse o motivo das ruas barrentas, mas que não deixavam de ter uma certa graça.

                         Falando francamente, não sei por que eu ia para a casa desse tio, uma vez que ele tinha só um filho homem, mais novo do que eu - o Roberto, futuramente denominado de Roberto da Ilha (do Governador), para diferençar de outros primos com o mesmo nome.

                         Lembro-me que detestava a comida da minha tia, aliás, comida mesmo, essa chamada de panela, ainda hoje não me apetece muito. Pois sim, eu detestava a comida da minha tia e muito mais os insetos que ficavam esvoaçando no ar quando as luzes eram acesas com risco iminente de cairem nos pratos.

                         Ignoro o que fazíamos o dia inteiro. Certamente as mesmas coisas que todas as crianças fazem, mas que para cada uma é especial e inusitada.

                         Um dos nossos passatempos favoritos era ir para um morro que ficava a curta distãncia e fazia parte dos terrenos de meu tio. Para isso tínhamos que atravessar ma plantação de não-sei-o-quê e passar junto de um chiqueiro. Nesse ponto eu prendia a respiração e desabava na corrida. Chegando ao morro passávamos horas esquecidas gritando: be a bá, be é bé babé... be i bí... Só para escutar o eco. Depois recomeçávamos com outra consoante. 

                    Certa vez fomos levados a uma apresentação da Paixão de Cristo. Possívelmente em um teatrinho de alguma igreja. Tudo o que sei é que achei ruim do começo ao fim. Eu devia ter uns 8 ou 9 anos e, apesar de estar familizarizada com o tema pois estudava em colégio de freiras, a representação não correspondeu ao que eu esperava: o palco era escuro, havia gritos e trovões... Criança gosta é de alegria, não de sofrimento.

                    De outra feita meu tio nos levou a uma enorme plantação de amores-perfeitos. Nunca vi nada tão bnito. Era uma imensidão... Havia-os de todas as cores: roxos, azuis, grenás, mesclados...desde então amo de paixão os amores-perfeitos... discretos, quase escondidos sob as folhas protetoras.

                    Por tudo isso e muito mais é que, para mim, Petrópolis tem gosto de férias e de infância.

                                   
novembro - 1994