O ÚLTIMO DESFILE.
Chagaspires
Hoje ao ver o desfile do dia Sete de Setembro na TV, me veio à lembrança a última vez que desfilei pela Polícia Militar de Pernambuco. Foi em 1993.
Naquele ano no mês de agosto, havia sido promovido ao posto de Capitão da Gloriosa Polícia Militar.
No dia Seis de Setembro de 93, pernoitei no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, onde servia.
Tendo como Comandante o então Major Severino Barbosa, (hoje Coronel da Reserva Remunerada);por sua ordem todo contingente inclusive os oficiais e alunos dos diversos cursos, dormiriam no quartel.
Não consegui fechar os olhos tal o estado de ansiedade em que me encontrava; então resolvi dar os últimos retoques no fardamento que usaria, pois faria parte do estado maior formado por capitães logo após o Comandante da Escola, no posicionamento da tropa no desfile cívico.
O capacete e a espada reluzente, se encontravam no meu armário no alojamento dos capitães; a farda bem passada estava pendurada no cabide com as platinas que traziam as três estrelas brancas, representando o posto de capitão.
As medalhas de Honra ao Mérito e do Tempo de Serviço já estavam espetadas acima do bolso da Gandola, (espécie de camisa grossa que fazia parte do fardamento).
O coturno novo e todo encerado na tonalidade preta, fazia contraste com as polainas brancas que seriam colocadas por cima do calçado e do cachecol para o pescoço.
Então resolvi passar mais um poço de Kaaol (Um limpador de metais da época) na espada para passar o tempo.
O toque de despertar da corneta fez-me acordar do leve sono.
Corri até o chuveiro tomei meu banho e me vesti.
Ao olhar minha imagem no espelho com todos os apetrechos do fardamento; meu olhar ficou parado naquela visão.
Senti-me como o próprio Narciso enamorado de si mesmo.
Após um rápido desjejum , subimos nos ônibus que se encontravam estacionados no pátio do Quartel, e rumamos para o local onde deveríamos ficar no dispositivo do desfile.
Naquele ano o desfile comemorativo ao dia da Pátria foi na Avenida Conde da Boa Vista, no centro da cidade do Recife.
Meu coração acompanhava as batidas dos tambores de tão alterado que estava.
A som dos calçados sobre o asfalto na marcha cadenciada e vibrante, pareciam o rebumbar de trovões de uma furiosa tempestade.
A música melodiosa da banda Militar a tocar, estava cada vez mais perto.
Isso queria dizer que o palanque das autoridades estava próximo.
Então a hora da continência havia chegado .
Com todo rigor desembainhei a espada ao comando de apresentar armas, e voltando rapidamente a cabeça para o lado do palanque abati-a só voltando a recoloca-la na bainha quando o palanque ficou para traz.
Ainda hoje me lembro daquele dia; foi o último desfile que participei.
No mês seguinte coloquei o meu pedido de reforma, e em novembro daquele mesmo ano fui conduzido a Reserva Remunerada da Gloriosa PM.
Nunca mais desfilei.
Fui promovido na reserva ao posto de Major pelo então Governador de Pernambuco Eduardo Campos; que DEUS o tenha.
Passaram-se vinte e três anos, e quando chega o dia sete de setembro,meu coração acelera ao me recordar daquele memorável dia.