TEMPO ONDE O OURO TRANSFORMA-SE EM POEIRA

Por horas a fio, a TV denuncia solidão, como se a claridade fosse suficiente como companhia, durante cenas de violenta falta de expressão e silêncio, que se repetem durante a troca de canais. Os dias seguem desregrados, alternando o café da manhã e jantares preparados apressadamente para serem servidos ao lixo, ao luxo de ignorar a ausência. Invoca-se outro canal, e as imagens remetem instantaneamente a medos incontroláveis sobre a perda de sanidade, sobre o mistério do dinheiro que evapora no caminho do banco para casa, da peça de ouro que se transformou em pó e foi varrida para debaixo do tapete. Tempo é dinheiro deveria ser apenas uma expressão, ou não, então é melhor aproveitar enquanto ainda não contabilizamos segundos, faturamos minutos e lucramos meses, afinal economizar o final de semana para qualquer passeio está cada vez mais difícil nestes dias de extremo aperto, seja pelo saldo ou pelo pequeno universo virtual a que cada vez mais nos recolhemos. A vida há de ser muito mais do que tudo aquilo que nos vendem diariamente como perfeição.