O Prato

Vai, seja um prato e cumpra seu destino.

Deixe que qualquer um ou qualquer uma lhe enfie a faca, o garfo, a colher ou qualquer outra coisa que resolvam enquanto você se contenta em ser comida, devorada, engolida e digerida.

Vai, deixe que te comam, te arranhem, cuspam em você enquanto se contenta em estar fazendo o que nasceu para fazer, o que nasceu para ser ou apenas o que se resignou a suportar.

Seja um prato, fique ali, louça estendida sobre a mesa, aberta para quem irá te consumir agora, vivendo sua vida de boca em boca e no final, sendo jogada, suja e usada em qualquer canto, ignorada até que alguém tenha fome novamente ou apenas não tenha um prato melhor para comer.

Seja esse prato que você escolheu ser, que busca na boca alheia um pouco de atenção, um prazer efêmero de ser desejada que não dura mais do que isso, uma refeição, uma comida...

E eu? Eu sou aquele que te lava, te cuida, te limpa, mas que só tem de você seus restos, suas migalhas, suas sobras...

Pensando bem não sou isso não... bem queria ser, mas acabo sendo apenas o seu lixo, que te acolhe em sobras e resto, te aceita tal qual você é, mas de que isso vale? Que valor você me dá?

Sou apenas o lixo... e como tal, só me resta ser descartado, mas mesmo assim não se esqueça:

Eu fui o único que te viu como você realmente é.