Anjo numa noite escura

Na noite da alma, o Ser em prantos busca suas veredas. Corre insanamente, chora e, em seu devaneio, numa mistura de ódio e dor, grita por socorro. Sem consolo e resposta sua loucura prossegue. Seu desespero aumenta, sombras ao seu redor... vozes em seus ouvidos... Loucura, loucura, loucura...

- Como fugir? Onde procurar abrigo? Não há lugar seguro, impossível se esconder.

A voz que em seu ouvido sussurra apenas diz: - vem, siga-me...

- Mais ir para onde, qual o destino, estarei seguro?

- Vem – diz a voz – segue-me sem medo.

Enfim uma luz irradia, eram os primeiros raios do sol, que alívio, agora sim, a procura por socorro será mais fácil. Mas a voz do anjo ainda persiste em seus ouvidos – vem, segue-me sem medo, logo estarás seguro.

Já desfalecido sem forças o Ser se entrega, como rio ao mar, sem relutar, apenas deixando-se levar. Uma sensação leve de paz se instaura em seu ser. Toda aquela angústia parece desaparecer como num passe de mágica. A jornada se inicia, o Anjo e o Ser, uma dupla, uma equipe numa ajuda mútua.

O Ser nem imaginava para onde iria à companhia do Anjo, também nem questionava, havia resolvido segui-lo, calado e confiante ia junto ao Anjo que o levaria a um lugar esplendido. Assim que lá chegaram, pode notar que era mesmo o lugar mais belo que já estivera na vida. Um jardim lindo, muitas flores, borboletas... bem ao fundo desse jardim, escondida entre duas amoeiras estava a mais bela de todas, a rosa azul, rara, mas tão mais rara era sua beleza, seu perfume se espalhava por todo o jardim, nem notou quando o Anjo o deixou, sua atenção era toda dela, a rosa mais bela e perfeita.

O dia passou, a tarde vinha depressa, parecia mesmo apressada em terminar para dar lugar à noite, foi ai que ele percebeu que estava só, mas dessa vez não teve medo, estava seguro ali, que mal poderia lhe afligir? Resolveu então ali mesmo permanecer e enquanto esperava que o Anjo retornasse continuava a contemplar tão grande beleza. Jamais havia experienciado tamanha paz e alegria. A noite aos poucos dava lugar aos primeiros raios do sol, cada raio que penetrava no jardim fazia o cenário cada vez mais perfeito. O ser enfim se pergunta - o que o Anjo queria levando-o para aquele lugar tão belo, não obtivera resposta, e ali permaneceu por muito tempo. Não lhe faltava nada, o tempo que ali passou foi eterno e infinito, mesmo solitário não se sentia só, o Anjo o visitava freqüentemente, mas a nenhum de seus questionamentos respondia. Assim se seguiu até o dia final, em que o Anjo revelou-se verdadeiramente, era o Senhor da morte que o buscou em sua agonia e o livrou do sofrimento, que o levou a conhecer o mais belo dos jardins e a felicidade mais simples e plena. O Ser apenas aceitou, nunca havia sentido tanta felicidade, agradeceu ao Anjo pelo acolhimento e segurança e nunca mais questionou tal atitude.

Apenas ai pode notar que em nenhum momento esteve só, ali habitava outros Seres, que de uma forma ou outra faziam parte daquele cenário, os quais não percebia pelo deslumbrar em que vivia... não tinha olhos para um mais além, apenas para a beleza que contemplava. Hoje vive feliz em seu recanto de flor, com suas flores azuis, vermelhas e tantas outras de cores variantes e desconhecidas, no seu jardim de primavera eterna, na companhia dos que com ele dividem tal esplendor.

Cristiane Libardi
Enviado por Cristiane Libardi em 22/05/2007
Reeditado em 06/04/2012
Código do texto: T496399
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