A LEMBRANÇA

Quando era menino vivia num sitio com meu irmão e meus pais. A casa era modesta, com apenas duas tonalidades de cores; o branco e azul. Tempos depois descobrira que a pintura derivava de uma técnica conhecida com “caiação”. Por isso, nossas roupas ficavam todas sujas de azul turquesa. Bastava encostar-se nas paredes, e pronto, lá estava o pó de cheiro insuportável, mas com aspecto cintilante quando absorvia a luz solar.

O mundo era meu, tendo em vista a grande lagoa de água turvas que era alimentada por um límpido córrego, na qual floresciam os pés de agriões. Na margem esquerda do córrego estava a mais surpreendente das minhas descobertas um pé de fruta. Não sabia que árvore era aquela, pois ela nunca dera frutos ou flores nos primeiros anos. No mesmo córrego colocávamos nossos barcos feitos de casca de abacate para navegar com os destemidos marinheiros, as formigas saúvas que eram abundantes no sitio.

Hoje o menino crescera, mas continua com alma de menino, as brincadeiras não são mais as mesmas, e o fogão a lenha já não esquenta os ossos e a alma nas noites de frio. As estórias contadas pelo pai ficaram na memória; sorrateiramente a espreita num velho baú sujo no fundo das lembranças. O velho cachorro morrera atropelado na rodovia e grande descoberta, o pé de fruta secara quando mudamos para a cidade.

O tempo me mostrara que a descoberta, era apenas um pé de pitanga que algum pássaro se encarregou de semear e que hoje as frutas são encontradas no supermercado da esquina. Entretanto, elas e a vida apresentam um sabor diferente da infância do humilde cronista.

Osório Antonio da Cunha
Enviado por Osório Antonio da Cunha em 22/05/2007
Reeditado em 22/05/2007
Código do texto: T496495
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