SALA DE ESPERA

Ela sempre teve uma excelente relação com a sala de espera. Era um lugar no qual se sentia invisível. “Alguém se importa com quem está esperando?” Dialogava ela consigo mesma. “Tudo não passa de rotina e os clientes não são pessoas, são expediente.” Assim, continuava seu diálogo interno. Seu maior prazer era pegar as revistas novas ou surradas que repousavam sobre as mesas de centro, ler suas matérias e se deliciar com as fotografias. Tinha forte impressão de que só os ricos poderiam comprá-las, sobretudo, aquelas que mostravam gente rica. Nelas, futilidades eram elevadas ao status de objetivos (platônicos, é claro). Que estranho, a sala de espera podia transformar o fútil em algo inteligente... Quando chegava a uma recepção que não disponibilizasse revistas, ou que apenas deixasse para os clientes catálogos ou listas, considerava: “não é possível que alguém seja tão desumano, deixando-me de mãos e cabeça vazias enquanto espero!” Para evitar tal sentimento, comprou um aparelho de telefone com internet. Com ele poderia se manter mentalmente ocupada, inclusive nas cadeiras de rodoviárias ou aeroportos. No entanto, seu aparelhinho tirava todo charme da espera. Ele queria as revistas, o silêncio, ver sem ser vista, pensar sem ser interrompida, desejar, mesmo sem ter condições para obter. Por isso, detestava quanto um metido a simpático e atencioso tentava iniciar uma conversa. Questionava-se: “por que esta pessoa se vê no direito de perturbar minha solidão?” Se travasse uma breve conversa, só o fazia por educação, mantendo um sorriso apático, um pedido para que o silêncio fosse retomado. Não se permitia preocupações, pois havia lido no mural de entrada de um consultório o texto de um sábio oriental que falava sobre a vida simples, sem ansiedade, vícios, excesso de atividades... Desde então, aquelas palavras passaram a ser para ela sua filosofia de vida, pelo menos nas salas de espera. Não entendia o porquê das pessoas ficarem impacientes naquele lugar. Era impossível vislumbrar algo mais interessante para que fizessem. Apesar disso, quando olhava para elas, acreditava que, em geral, tinham uma vida melhor. Porém, isso não tinha a menor importância. Ali, todos eram iguais, todos esperavam. Ponderava: “a espera nos iguala; o que nos diferencia é o que nos aguarda do outro lado da porta. Logo, esperar é mais cômodo.” Recentemente, ela teve uma filha. Hoje, sua pequenina está com febre. É a primeira vez que está doente. As duas se encontram na sala de espera da emergência do hospital. As revistas permanecem inertes sobre a mesa de centro. Não as quis pegar. Olha para as demais pessoas. Todas estão em silêncio. Ela tem vontade de falar, de perguntar se alguma delas teria resposta para sua inquietação, uma solução para seu problema. A recepcionista continua com seu ar de indiferença. Cumpre muito bem sua rotina. Mãe e filha são só expediente. Incrivelmente, jamais havia se sentido tão solitária. Nunca havia se sentido tão coisa. Os ponteiros do relógio seguem seu caminho. Agora, tudo faz sentido: “sala de espera”...

Ricardo Toledo
Enviado por Ricardo Toledo em 23/09/2014
Código do texto: T4972997
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