Amor de Vitrine

O ser humano não foi criado para viver só. Passamos a vida toda à busca do par ideal. Os “sem-par” sentem a inquietação do estar só e, no afã de se livrarem dessa incômoda sensação, vivem, com maior ou menor intensidade, a constante procura pelo companheiro de vida.

Como uma mulher de 40, divorciada, sei bem demais da dificuldade existente em encontrar um homem que se encaixe em nossos pré-requisitos, que, a essa altura da vida, são tantos que é impossível os chamarmos de básicos (o homem tem que ser bom!).

Assim, brasileiras que somos, habitamos num lindo país onde não há um homem inteiro para cada mulher! Se todos os homens fossem héteros, daria por volta de 0,94 para uma. Aí vale ponderar sobre o que representaria os 0,06 nesse pretendente. Há uma coisinha ou outra que, na falta de um inteiro, talvez, abriríamos mão (os cabelos, por exemplo!). Porém, sabemos que não é esse o caso e a coisa vai caminhando de tal modo que, não demora, teremos que nos virar com menos da metade de um.

É nessa conjuntura de escassez geográfica de homens, acrescida ao incômodo do estar só e a um mais apurado grau de exigência feminino, que se manifesta o fenômeno “econômico-antropológico” denominado “Lei da Oferta e da Procura”. Ou seja, os homens héteros, apresentáveis, já não se acham, eles têm certeza!

Perdoem-me os bons meninos, a generalização, mas, numa democracia, é a maioria que conta. Amigas minhas compartilham suas experiências com homens “tudo de bom”, mas sem qualquer responsabilidade com o que dizem, como se suas palavras não fossem capazes de quebrar o coração de alguém. Transbordam-se em elogios e gentilezas, “meu amor”, “minha paixão”, “perfeita” (e etc.), e, já descartam e passam para a próxima, do mesmo jeitinho encantador. Afinal, se são, aparentemente, inteiros, significa que sobrou poucas opções para tantas solitárias à procura. Eu os chamo de generosos porque se desdobram em se dividir, para a felicidade do maior número de mulheres possível.

É fácil visualizar isso na internet, poderosa aliada dos sem-par (e dos adeptos da poligamia, também). A rede permite a busca frenética por um parceiro, porque amplia as possibilidades para além do nosso círculo social, conectando pessoas em qualquer lugar do mundo, e, talvez, até do espaço. Posso bem imaginar um astronauta, entediado, acessando um chat para um papinho virtual.

É como entrar numa imensa sapataria, com incontáveis vitrines de sapatos para todos os gostos e poder levar apenas um. A variedade de oferta é tanta que não dá para se decidir. Então, experimenta-se um com os olhos em outros. Calça-se um, deliciosamente confortável, mas esse outro é tão mais bonito, embora esteja pegando no calcanhar... E tem os que ainda nem provou! Na dúvida, adia-se a decisão, pelo prazer de experimentar e experimentar... Mas, vale manter seguro alguns que agradaram mais, porque, embora sempre possa haver um ainda melhor, nessa abundância de oferta, é bom garantir.

Acontece que pessoas não são sapatos, nem objeto nenhum. Não deveriam ser tratadas como tal. Existe uma lei maior do que a de mercado: Colhe-se o que planta. Ter critérios para escolher a pessoa com quem se pretende compartilhar a vida é imprescindível. O que me incomoda é a forma fria, insensível e egoísta da escolha.

Maria Buluca
Enviado por Maria Buluca em 25/09/2014
Código do texto: T4976430
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