A HIPOCRISIA DA VÃ UFANIA

Nós cantamos canções de vitória... Inventadas (como todas as canções). Não fomos nós os compositores... Foram eles. Quem são? Aqueles que só querem baixos, barítonos e contraltos. Raramente tenores e sopranos. Exigem um coral. E o coro nunca foi tão afinado. Entoamos o que nunca fizemos. Nem eles. Intelectuais dizem que é sentimento coletivo... Inconscientemente. A massa não pode ter autoconsciência. Uma estrofe apenas basta para sua poesia (e para seu ser). Repetida, esganiçada... Mas afinada. Antes andava pelas ruas... Agora, mora e permanece em suas caixas, olhando e ouvindo suas caixinhas. Suas ideias não vieram da realidade... Nem de suas cabeças. Vivem num mundo chamado hipocrisia, num tal de hipocribook... Abaixo da crise, na bolha (virtual). Hoje, seu lugar é todos e todos os lugares nada são. Aliás, hoje é a mais equívoca das palavras. Vive-se o presente para mostrá-lo. Logo, o presente nunca é de fato presente. Está sempre aquém... Jamais além. Toda ideologia perdura moribunda nos livros, enquanto o sujeito segue reificando-se (sozinho), enclausurado pelos limites da massa. Todos possuem suas pseudo-identidades... Sua falsidade ideológica. Assim, seguem se chamando de indivíduos... Solistas: a estrela do coro. Tardiamente descobrem que suas vozes são tão impotentes, que se abafam por qualquer ruído. A massa se satisfaz e se regozija com a substituição da música pelo ruído... De manobra. O barulho alucina e as canções de vitória ridicularizam. Pode-se ver pelas faces sarcásticas dos maestros. As melodias e suas letras, bem como a ufania, são sempre esquecidas após dois ou três anos. Algumas ficam arquivadas no hipocribook. Arquivo morto. Mas o sarcasmo continua... Até a próxima canção.

Ricardo Toledo
Enviado por Ricardo Toledo em 26/09/2014
Reeditado em 26/09/2014
Código do texto: T4976766
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