ANEL MÁGICO

Prof. Antônio de Oliveira

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O pastor Giges servia ao soberano da Lídia, Caundales. Certa vez, Giges ficou exposto a uma forte tempestade seguida de terremoto, ocasião em que o solo se rasgou e fez surgir uma fenda no pasto onde ele apascentava o rebanho. Ao contemplar os destroços causados pelo tremor de terra, viu um cavalo de bronze, oco e, dentro, um cadáver, com um anel de ouro na mão. Estando, depois, reunido com os companheiros para prestar contas ao rei e de posse do anel, que havia surrupiado, descontraidamente gira o engaste do anel para dentro. Num passe de mágica, Giges se torna invisível. Admirado, passa de novo a mão pelo anel, e gira-o para fora. E se torna visível. Senhor do anel e dono da situação, consegue chegar a primeiro-ministro, seduz a mulher do soberano e, com o auxílio dela, mata o rei e toma o poder. Foi o fundador da dinastia dos Mermnades, século VII a. C.

Pode ser mais lenda que realidade, mas, na verdade, o mito e suas lições às vezes prevalecem aos fatos. Trata-se de uma alegoria, que consta, inclusive, d’A República de Platão, cuja moral da história resulta de um diálogo em que Glauco, irmão de Platão, apresenta um argumento em favor da injustiça. Em resumo, para Glauco, se uma pessoa com o poder de cometer um delito não o fizesse seria tola, idiota, uma vez que seus atos não estariam sendo flagrados. Aliás, isso é o que mais funciona. Justamente o oposto de transparência, ficha limpa.

Giges descobriu que a invisibilidade o habilitava a praticar a corrupção sem ser punido. No Brasil, os políticos não carecem de invisibilidade, pois já dispõem de imunidade e impunidade. Quanto ao poderoso anel mágico, esse gira nos dedos de competentes e pouco éticos advogados mancomunados com o poder. Anel que sela a impunidade dos grandes e das grandes, já que é politicamente correto feminizar todos os substantivos, hoje em dia. Para o bem e para o mal. Com a pedra do anel da cor rubi, mete-se o carimbaço: ARQUIVADO.

Antônio Oliveira MG
Enviado por Antônio Oliveira MG em 29/09/2014
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