INCOMUM ROTINA

Jardins bem cuidados ou mesmo sem cuidados, mas sempre bonitos. Varandas com vasos, arranjos e flores criando um singelo e acolhedor ambiente. Comuns paisagens urbanas a que nossos olhos se acostumaram, de repente, dão lugar a uma varanda destituída de beleza. Nenhum sinal de cuidados femininos, nenhum toque gracioso artesanal, nenhuma presença de luz, nada de lirismo ou poesia. Apenas uma necessária mobília. Rústica. Descombinada. Uma mesa, alguns cinzeiros e outros utensílios sobre ela. Nada combinando, tudo improvisado, cadeiras de plástico, de metal, de madeira. Ambiente distante de qualquer criatividade e arte.

Nesse ambiente, não raro, a qualquer hora do dia (manhã, tarde ou noite) pessoas jogando baralho, distribuindo cartas, sorteando naipes, construindo "harmonias", disputando posições, vibrando com a sorte ou astúcia, gritando a plenos pulmões as conquistas pessoais ou as do grupo. A vitória do time do coração ou a derrota do grande time rival. O que é raro lazer a muitos, a essa família ou comunidade é o dia a dia. Compõe a rotina. Não faço juízo. O preconceito latente irrompe. Um mistério no qual não penetrei. Nem pretendo entender. Registro apenas a reflexão. Aquele que tudo criou resposta tem ao enigma. Eu, simplesmente, o preconceito e a dúvida sobre aquilo que minhas cansadas retinas observam e o que ouço. Nada mais.

IRINEU UEBARA
Enviado por IRINEU UEBARA em 02/10/2014
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