Coincidências, ou não (padaria).

* Totalmente baseado em uma história real, em um registro antigo, especial.

Eram tantas mesas, tantas com cadeiras vazias…ele escolheu a minha.Fui à uma padaria hoje para ter uma bela janta: lanche nutritivo seguido de um copão de suco. Merecidamente.

Estava só, ocupando uma mesa e pensativa, voada, longe daquele ambiente, e não reparei que um moço se aproximava, e nem precisei reparar, porque ele me abordou:

- Com licença moça, posso me sentar na sua mesa pra escrever uma carta?

Olhei aquilo um pouco estranho. Mesmo no interior, as pessoas não tem tanta ‘chegação’ em sentar em mesas com pessoas desconhecidas. É raro isso, presenciei poucas vezes igual essa vez, aí antes de eu responder, ele explicou:

- É que comprei uma cesta de café da manhã pra minha namorada, e vou escrever a carta agora!

Fiquei um pouco boba. Na hora, dei a cadeira mais próxima. Ele sentou na minha frente. Ainda estranhando, e mesmo assim, ele me olha novamente e complementa:

- Pode ler a carta, pra ver se está boa?

Fiquei sem jeito acho! Primeiro já não é comum alguém te abordar pra sentar a sua mesa, as pessoas são mais solitárias nisso, e ele além de sentar a minha mesa, com objetivo de escrever uma carta a pessoa amada, queria que eu lesse a carta! Parei de comer na hora, limpei minhas mãos e fui avaliá-la. A carta era grande até; um texto bonito, sem muitas revelações: especificamente, falava que a amava muito. Vi alguns erros de português (minhas manias idiotas) mas não tive coragem de alertá-lo: o sorriso dele pela expectativa do que eu ia achar da carta era tão grande e bonita, que só consegui falar que tava boa a carta, fofa. E tava mesmo, e erros de português não estragariam isso. Bobagem.

Devolvi a carta, e ele com todo cuidado passou aquela folha de caderno grande a limpo para pequenos pedaços de cartãozinhos, que ia colocar sobre a cesta, e fiquei admirando aquilo, até terminar meu lanche.

Não resistindo, perguntei do tempo de namoro, se havia anos. Ele só respondeu que não, que era pouco tempo, 4 meses, mas queria que queria agradá-la, e me olhou com a cara do tipo ‘você deve compreender: as pessoas gostam de agrados.’

Sorri mais uma vez! E para me despedir, porque precisava voltar aos meus estudos, Concordei com tudo o que ele disse, desejei parabéns, e fui embora.

No carro, a imagem daquele moço não saiu da minha cabeça. Quando saía da padaria, olhei novamente pela janela: ele estava lá sentado, concentrado, passando a limpo cuidadosamente todo aquele texto romântico.

Não sei como é para as pessoas, mas essas coisas não acontece todo dia. Ando em uma fase difícil, meus pensamentos estavam voltados a isso até ele aparecer. Se foi alguma mensagem, alguma coincidência para me dar alguma resposta, não sei, não acredito nessas coisas.

Mas algo posso dizer: fico feliz que existe ainda pessoas assim, simples (porque pela forma do moço, meu pré-julgamento é de que falava se sua primeira namorada) e dispostas a coisas que a sociedade deixou tão de lado. O de agradar, fazer bem ao próximo.

Saí de lá rezando para aquele moço, pensando: “Espero que a vida não mostre pra você o quanto a sociedade e as pessoas são cruéis, que essa sua alma ingênua e meiga de pessoa apaixonada continue, por muitos e muitos anos.”

Estranho foi que era comigo aquilo. Eram tantas mesas, tantas com cadeiras vazias…ele escolheu a minha; e me mostrou algo bonito, que fez enxergar depois um dia bonito, uma nuvem bonita, almas bonitas.

Màyara Farche (antiga May Farc)
Enviado por Màyara Farche (antiga May Farc) em 02/10/2014
Código do texto: T4984414
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.