CHICA LUZIA E A HISTÓRIA DE SUA FAMILIA

Esta história aconteceu em meados do Século XIX, com a família de um irmão do meu tetra-avô. Muito rico e muito avarento, dono de fazenda de gado na Paraíba, com seis filhas e, outro tanto de filhos. Era um entrelaço de famílias: Xavier de Farias, os Castro, os Nóbrega, os Gomes e os Dantas.

Como já afirmamos, o velho fazendeiro era muito avarento. Não colocava seu dinheiro no banco, mas guardava em casa, e de vez em quando colocava o dinheiro no sol para não mofar. Nesses dias, ele ordenava que a mulher e as seis filhas cercassem as peneiras de palha grande, que aqui chamamos de “urupema”. Elas faziam um circulo e como suas saias eram longas e rodadas, cuidavam para não fosse roubado pelos escravos, ou que o vento espalhasse. Quando essa cena se repetia, sua mãe puxa com o pé um pouco do dinheiro para baixo da saia e uma das filhas conseguia pega-lo, e assim compravam roupas, etc.

Chica Luzia, uma das filhas mais novas. Era muito valente, desafiava qualquer um, aprendeu logo cedo a atirar, a lutar com espada e esgrima. Morava e era herdeira, juntamente com os irmãos, entre outras propriedades, na fazenda em que moravam, no entanto, o velho não permitia que matasse nenhuma cabeça de gado. Chica Luzia quando queria comer carne avisava a mãe e as irmãs. ”Hoje, vamos comer carne”. Sua mãe dizia; “Chica não faça isso”, mas não adiantava. Ela ia ao curral com uma mão de pilão e batia na cabeça de um garrote e o pobre do animal caia batendo no chão. Ela corria pra casa e ia para o “escritório” onde o pai estava gritando: “pai depressa, uma cobra mordeu um garrote”. O velho sovina, dizia: “rápido, mata e vamos comer para não ter prejuízo”. Lógico, que todos comiam, pois sabiam que a cobra tinha sido a mão de pilão na cabeça do pobre animal. Se soubessem que era uma cobra jamais comeriam.

Chica casou com um primo legitimo. Em decorrência da herança judaica, eles casavam entre si, para não misturar a família, e por serem de “sangue azul”. Pois bem, certo dia, fizeram uma aposta, os irmãos, cunhados e com a conivência do marido. A aposta era uma quantidade de cabeças de gado, mas ela só ganharia se montasse num cavalo e entrasse a meia noite, numa noite de lua, na mata que ainda estava nos limites da fazenda. Ela disse: ganhei a aposta. A curiosidade está em que ela estava grávida, que segundo o relato dos familiares devia estar com aproximadamente dos seis para o sétimo mês.

No dia marcado, alguns saíram na frente, entraram na mata, se vestiram de branco e cobriram a cabeça com um lenço. A proposta era assustá-la e não pagar a aposta. O marido estava no meio. Quando ela os viu vestidos de fantasmas falando “chica”... Ela gritou de cá, “é bom vocês serem fantasmas, por que lá vai bala”. Todos sabiam que ela tinha boa pontaria. Quando ouviram a ameaça, gritaram: “Chica pelo amor de Deus, não atira, somos nós”. Ela gritou de cá: “bando de cabra safado, vocês merecem levar um tiro. Ganhei a aposta”.

Marcaram um almoço em família, onde ela receberia as cabeças de gado da aposta. Ela não só ganhou a aposta com ainda armou a maior gozação pra cima deles. Quem sabe melhor essa história é a minha mãe e minha tia. E ela ainda não acabou.

Aguardem.

Recife, 22.05.07