O CANSAÇO DOS PALHAÇOS

Véspera de eleição!

Vêm-me a mente as longas discussões travadas pelos cabos eleitorais e simpatizantes das várias candidaturas. Cada um procura justificar as razões do seu voto, superdimensionando as qualidades do escolhido e superdimensionando as fragilidades e defeitos dos adversários. É sempre assim. E, o pior, quando a gente comenta que não existe partido nem candidato santo e perfeito, a concordância é unânime.

Todos parecem dotados do atributo da onisciência. Conhecem tudo de bom e virtuoso do seu candidato; conhecem todas as justificativas às falhas praticadas, conseguem descobrir falhas nos adversários que nem o ministério público, a polícia e o judiciário sabem; jamais reconhecem qualquer aspecto positivo que não seja relacionado ao seu "eleito". O que “pipoca” na redes sociais, então, dá para fazer uma grande obra surrealista onde ficção e realidade se misturam, formando uma trama inusitada. No fundo mesmo, acredito que muitos candidatos pensam que os eleitores sejam palhaços pois como tais são tratados. Ficam olhando para eles (para nós) e parecem enxergar graça, mesmo que não confessem. Riem de nossa passividade e ingenuidade. Encontram graça na cara do povo, mas não a graça de Deus, a graça que os palhaços deveriam transmitir para fazer a plateia rir. Muitas vezes, diga-se de passagem, as palhaçadas que fazem não têm a menor graça. A gente ri por respeito, para não ser mal educado, às vezes, até por dó.

Sonho com o dia em que todos os eleitores, hoje palhaços, poderão ter consciência de que unidos têm poder, têm força inclusive de legislar bastando saber o que querem, fazer uma revolução. Uma saudável revolução nos costumes desse país maravilhoso e ao mesmo tempo enormemente menosprezado! Mudar todo o sistema político, por exemplo. Dar um basta nesse vergonhoso balcão de negócios onde as grandes instituições bancárias, grandes empreiteiras e outras corporações que mamam nas tetas do governo, sejam proibidas de financiar as campanhas políticas. Isso é corrupção consentida! É ilegal, imoral, apesar de oficial. E por mais que alguns falem sobre essa vergonhosa prática, a maioria se cala. Parece concordar a maioria de que nada há a ser feito! Consciências anestesiadas. Nada provoca reação.

Seja lá quem for o eleito (a hipótese de algum nanico chegar ao poder é impossível e se chegar não lhe darão chances de governar) ele jamais governará contrariando os interesses de quem o financiou! Seja a candidata da situação, o candidato da oposição ou a terceira via que apontou, mais por um acidente do que pelo andar comum da carruagem, nenhum deles poderá dizer que está totalmente livre para governar! Mentira! Estarão condicionados, encurralados moralmente, enfraquecidos! É lógico que jamais admitirá o eleito que é presa das circunstâncias corporativas. Sempre virão os discursos, fazendo-nos de palhaços! Rirão de nós, como sempre!

Qualquer dia, a grande maioria excluída pode tirar a peruca, a grossa maquiagem, as vivas cores, o nariz vermelho, as roupas espalhafatosas, os sapatos largos e enormes, aquele riso pintado de orelha a orelha na pele mascarada e mostrar a cara de verdade. Cara de sofrimento: pelas aulas não recebidas, pelos medicamentos, médicos e hospitais indisponíveis, pelos transportes coletivos oferecidos em que estão amontoados sem dó nem piedade, pela comida que mingua no prato a cada dia, pela insegurança em que se encontram, pela esperança que esmorece; pela certeza e pela água na torneira que faltam e pela vida boa que parece existir só na música e em alguns cargos em empresas desse estatismo privatista ideológico que consome bilhões e ninguém sabe e nem desconfia de nada.

E ao chegar esse dia em que os palhaços se cansarem e se despirem da fantasia, saindo dos picadeiros e indo para a plateia, ou então, resolverem levar seus pleitos para fora do mundo circense. Nesse dia, o circo pode pegar fogo! Portanto, cuidado políticos! Bem comum é o bem de todos. É esse o objetivo e o sentido da política. Atrás do palhaço há um coração que sente, um cérebro que pensa e uma alma que vibra. Convém dignificá-lo em seu ofício executivo ou legislativo!

IRINEU UEBARA
Enviado por IRINEU UEBARA em 04/10/2014
Código do texto: T4987178
Classificação de conteúdo: seguro