O super e o hipócrita

A cena é a seguinte:

Homem trajando meia-calça preta, colan laranjado, botas meio cano e uma capa dourada. Encostado na parede do terraço, solta círculos de fumaça vindo do seu hollyú. Eis que surge um ser humano, desses bem comum.

- Fumando?

- Sim.

- Mas isso não é conduta que se preze vindo de um super-herói.

- Estou no meu horário de descanso. Faço o que quiser.

- E tem horário pra isso?

- Meu caro, não sou super-herói o tempo todo. Uso pijamas para dormir, vou ao banheiro...

- Sei lá, fumar pega mal.

- Uhum. Mas acredite, não é uma vida fácil. Quase não tenho tempo pra mim.

O homem não super, imagina uma vida assim, atarefada. Ele, que achava que, estacionar em Joinville dia de semana era tarefa quase impossível. Se pôs no lugar do homem, menos com aquela roupa ridícula.

- Imagino. Mas deve ter suas vantagens. Tipo, não andar de carro, não pagar passagem, ser famoso..

- Sim, claro. Quanto a isso não tiro sua razão.

- É, mas fumando continua não pegando bem.

- É meu único amigo. Trago ele, nos dois sentidos, pra dentro de mim.

- E as mulheres?

- Há, há, há. Muitas. Imagina que um dia desses transei com uma no ar, em cima de um estádio de futebol.

- (Risos)

- Sabe, muitas pessoas me agradecem pelo meu trabalho

- É, mas se soubessem que fuma...

- Isso já está virando obsessão sua. E digo mais, até me pedem autógrafo na rua.

- Sério?

- Sim.

- Ei, pode me dar um?

- Claro, você tem papel e caneta?

- Não, não. Cigarro, queria em cigarro.