A moça desconhecida! 2

Todos os dias ao sair de casa para pegar o ônibus, vejo uma moça vendedora de batata fritas que muito chamou minha atenção, pelo fato de se loira, jovem (aparentemente ter 19 anos), olhos azuis, verte-se bem e com um comportamento reservado.

Ela posiciona-se de um jeito profissional, séria, trata todos com igualdade, tem um sorriso preso, um olhar triste, trabalha incansavelmente (sei disso porque passo todos os dias por lá, e ela está da mesma maneira trabalhando). Fico perguntando-me, o que faz uma jovem, de pele suave, rosto limpo e lindo, unhas desenhadas em um carro de batatas fritas na parada de um coletivo. Nossas historias cruzaram-se em um dia triste, em que fiquei doente e tive que ir ao posto de saúde, próximo de casa, a médica disse-me: - vou passar um remédio e você vai melhorar. Você vai buscar atendimento no posto de saúde do Distrito Industrial de Ananindeua.

Peguei o remédio e como a médica disse, fiquei melhor. No outro dia aprontei-me para ir até o Distrito, um caminho diferente daquele que faço constantemente.

Aquele dia descobrir a história triste daquela simples moça vendedora de batatas fritas, que se esforça para não demonstrar tristeza e a dor sentida. Nesse dia cheguei á parada, espantosamente o coletivo não demorou e mais espantosamente tinha um lugarzinho no fundo do ônibus, sentei abaixei minha cabeça e pedia a Deus que minha doença não fosse nada (só um mal estar).

Quando levanto a cabeça, avisto, a moça e sua mãe entrando no coletivo, elas ficaram paradas bem na minha frente (claro, ofereço o meu lugar para a mãe dela sentar, mas a senhorita não aceitou). As duas estavam muito tensas e a mãe a pegava pelos braços e falava no seu ouvido (como estava muito perto escutei tudo). A mãe fazia a jovem lembrar, sua própria história. A jovem por sua vez não falava nada, mas os seus olhos e a tremedeira do seu rosto mostravam os sentimentos de alguém que não queria escutar aquelas palavras, sentimentos de alguém que quer esquecer um passado o qual não sai do seu presente que acabou com seus sonhos e devastou a sua vida. A vida daquela jovem nunca mais foi a mesma. Não existia mais sentido e lógica para viver. “Ela já não vivia a ilusão da felicidade como todos nós vivemos”. “Ela já não tinha esse sonho louco de ser feliz”, pois viver mostra a desgraça da sua vida.

No primeiro ano do ensino médio, ela conheceu o maior amor da sua vida e a causa da sua “morte viva”. Foi amor de verdade. Os três anos que ela cursou o ensino médio foram os três anos “mais vividos” da sua vida, algo tão gostoso que ela não percebeu que três míseros anos passaram-se como o vento que levou o seu amor.

Ele era alguém diferente que acreditava na liberdade, no amor, na vida e na ética como base fundamental para existência do amor. Seu maior sonho era ser útil queria cravar seu nome na historia. Juntos eles foram os melhores da sala e da escola. A genialidade dele: matemática, física, química, geografia e história eram o seu forte. Ela, a doçura: português, redação e literatura faziam-na relaxar.

O ensino médio chegou ao fim. Ele como um “ogro” correu atrás dos seus sonhos, entrou para as Forças Armadas. O seu primeiro erro! Ela queria ser médica e entrou para um cursinho pré-vestibular especializado. Eles só viam-se aos domingos quando ele não era preso por está com o coturno desamarrado.

Foi em um domingo desses qualquer que uma briga boba (dessas de casais que se amam) os separou para sempre. Ela queria convencê-lo de parar “com essa besteira de ser um militar” ele não dava ouvidos para o que ela falava, ela se irritou e começou a falar cada vez mais alto, o que não é aceitável para um militar. Ele pegou a moto e saiu igual um louco, na sua cabeça os pensamentos antagônicos que lhe mostravam a oposição de dois caminhos entrelaçados, um sonho de criança e o amor da sua vida.

As diferenças eram duas constantes, a vida militar: dura, rígida, Inflamável, prezada que iria consumi-lo e desgastá-lo até os últimos segundo da sua vida. Do outro lado o seu amor: doce, linda, inteligente, amável, alguém que ele sonhou em ter ao seu lado para toda vida. A moto corria! Cada segundo mais rápida.

Quando ele percebeu, a última coisa que viu foi o rosto dela reluzente no farol de um caminhão. A morte foi certa! O SAMU NUNCA CHEGOU. (estava ocupado com um menino mimado que ligava perguntado pela sua mãe, o famoso trote) A vida daquela moça nunca mais foi à mesma. Tanto que entender por que, do sorriso preso daquela simples vendedora de batatas fritas. A sua luta já não era mais justa, um desgraçado menino sem amor matou o financiador dos seus sonhos, o seu amor, seu futuro marido, um futuro pai de família, e mais que isso, matou e nunca vai ser punido.