UM POUCO DE COTIDIANO

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Saiu sem correria. Tudo o que precisava era passar no mercadinho, comprar alguns ingredientes para o almoço, postar as correspondências em seguida no Correio e pronto. Estavam feitas as tarefas fora de casa.

Mas o que é isso? Calor, muito calor! Sol escaldante, trânsito confuso, carros por toda parte e nenhum motorista que se preze para educado e deixá-la atravessar aquela avenida... É assim. Quando no país tudo acaba sempre em pizza, nem mesmo a pizza que queria fazer seria fácil pra ela. "As coisas só são fáceis no Planalto Central", pensou.

"Agora vai dar pra atravessar...", olhou confiante para aquele lado da rua. Ah, entenda-se rua aqui a avenida movimentada. Ela atravessou, os pés já incomodados... Convenhamos, não precisava ter colocados as sandálias de salto! Pra quê mostrar-se toda arrumada se já em si mesma levava a luz dos deuses, a beleza natural de uma vida leve? Vá entender as mulheres!! Lá foi ela atravessando entre carros (o sinal estava vermelho bem adiante, mas era grande a fila das máquinas e seus motoristas impacientes).

No mercado encontrou apenas dois dos ingredientes que procurava. O produto especial de sua alimentação balanceada não estava disponível - pra não dizer que não tinha mesmo! "Como sempre eles deixam falar o mais óbvio da linha dos naturais... Não voltarei mais aqui. Aliás, eu já tinha me feito essa promessa antes! Vai saber...". Passou pelo caixa a bela e aprumada em seus saltos altos jovem senhora e seguiu então para a agência dos Correios.

O sol forte começou a incomodá-la. Visivelmente cansada, o calor fustigando, rosto meio pálido, entrou nos Correios lamentando ter deixado para trás sua garrafinha com água: "Estou mesmo perdendo o bom hábito da água constante... Onde vou parar assim? Acho que estou com o corpo meio fraco... Será que dou conta de fazer o almoço? Meu Deus! Estou cansada...!"

Logo foi sua vez de ser atendida. Lamentava ver ainda sem funcionar o sistema de senhas e numerações, chamados pelo painel eletrônico. Ao aproximar-se do balcão, quis saber do funcionário se era falta de verbas da administração da ECT a razão de tal falta: há semanas os consumidores passavam pelo constrangimento do levanta-e-senta da fila.

E com simpatia tímida o rapaz explicou que não era falta de verba e sim de vergonha pois que o fornecedor dos papéis de senha (que tinham acabado há semanas, por isso o painel não funcionando) era o tal envolvido na gravação clandestina da propina do Sr. Marinho e que deflagrou toda essa CPIzza no Congresso Nacional e então, licitação para ter o papelim para senhas de atendimento só mesmo quando isso se resolver!

Precisa dizer que a jovem senhora, cansada, meio que riu e quis desaparecer do país? "Mas o que eu queria? Estamos no Brasil!". Perguntou ainda ao atendente o valor de seu salário. Ele enrolou, enrolou e não matou a curiosidade dela, que agradeceu-lhe a presteza e saiu lutando contra a desilusão por um país tão grande mas bobo!