Mídias by night

Mídias by night







Eu realmente esperava que o último episódio do seriado Mad Man fosse melhor. Ganhei essa série em agosto, super premiada, coisa e tal, e toda vez que me perguntavam: e aí, gostou? Eu respondia com toda franqueza: é trinta vezes superior ao lote de filmes da TV a cabo, que parecem, 99,9% deles, criados por uma única mente maligna, que gargalha e cambaleia de madrugada, fumando um cigarro atrás do outro, esfregando as mãos e se entretendo em difundir a toque de caixa o roldão da imbecilidade universal aguda.

Na TV xis passa um filme onde um sujeito que mora numa casa cinematográfica, com vista paradisíaca e com uma mulher idílica (Júlia Roberts) e se diverte fazendo o que? Batendo nela. Haja paciência.

Clique.

O Jornal da Cultura noturno teve a participação do sr. Luiz Felipe Pondé, e toda vez que ele abre a boca eu fico bem quietinho pra ver se aprendo alguma coisa.

No Canal y temos Sandra Bullock e uma que eu desconheço, filme novo, ambas são policiais e é uma baboseira suportável de se olhar por no máximo 30 segundos.

Domingo passado, na TV Câmara, ou Senado, sempre confundo, passou um especial com o tecladista, cantor e compositor pernambucano Zé Manoel. No palco temos ele, uma menina na percussão, um baterista e um baixista. Quarteto nos trinques, trazendo de um baú que parecia lacrado uma vertente musical que já foi tesouro nacional, conhecida pela sigla MPB.

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"Vai que cola". Sitcom da Grobo Cable. Point. O Brecht tinha uma tirada muito interessante sobre o teatro. Bom, me imbuindo de um rápido e talvez incerto pensamento purista, digo: não sei se é teatro. Tem uma menina baixinha, tipo piriguete, o namorado dela, um cara musculoso, o zelador gay que venera Barbara Streisand, a afro brasileira rechonchuda que fala errado e tem ataques, todo mundo ali tem ataques, a dona da pensão, ah, sim, tudo se passa numa pensão, no Meyer, mais um careca que faz mil papéis, uma loira exuberante e um sujeito que anda com um traje de faz tudo doméstico, apaixonado pela dona da pensão. Esses, me parece, perfazem o cast principal, que a cada programa sofre variações. Não conheço ninguém pelo nome, nunca tinha visto nenhum deles antes, são competentes - isso não se discute - sendo isso um grande trunfo pro negócio todo funcionar. E funciona mais ou menos na base daquele humor que você meio que espera pela piada, às vezes há uma tirada que se destaca, mas nada voa muito acima de uma espécie de média estabelecida e outro grande trunfo dos idealizadores é que o show está aparentemente livre da ferramenta emburrecedora (com origens no nazi-fascismo), chamada de "politicamente correto". Preciso me estender? Entre um clique e outro descobri um personagem novo(?), apesar de estar no Meyer RJ, ele é oriundo do Campo Limpo ou Capão Redondo (SP), fala daquele modo peculiar, tendo ainda as características de corintiano roxo, motoqueiro e vez em quando faz um assaltos. Ops, franqueza no ar.

Outro dia pude ver uns fragmentos de um Hitchcock anterior aos USA, esqueci o título, onde há um personagem menor que recebe uma atenção maior no enredo até certo ponto, um menino de no máximo 14 anos, que sobe e desce, vai aqui, vai ali, daí dão uma encomenda para ele levar, ele se demora pela Londres dos anos 30, um ambulante faz uma performance com ele para delírio de uma pequena multidão, então o menino vai nos seus fazeres e, sabe o que o Hitchcock faz? Explode o menino. Tudo com muito charme, você não vê nenhum corpo despedaçado, nem nada, a pista é um rolo de filme. Cinema era menos retilíneo nesses tempos.

De modo geral, nos noticiários de hoje, além da Bangue Bangue Brás, o destaque foi para o delator de O Petróleo é Nosso, plus quem se beneficiou, quanta grana foi, de que jeito, (bocejos), daqui um mês ninguém lembra, e se lembra, faz o que?

Ah, sim, o Segundo Turno, cada qual com um balde cheio de lama e adivinha o destino do conteúdo... O rosto do adversário, que, segundo dizem, lavou ta novo.

Ferreira Gullar foi pra Academia Brasileira de Letras. Uai? Sempre pensei que ele já estivesse lá.

Essa não foi by night, mas vale a pena figurar aqui. Vi no programa da Ellen: Duplic8. Dois bailarinos londrinos da pesada, um de 13 anos e outro de 27, que em uma palavra - arrasam. Eles se conheceram em 2012, num evento sobre dança, e, a despeito da diferença de idade e de tamanho o trabalho deles é sensacional.

Estava ansioso esperando o Clube do Filme de hoje, e pra mim parte do programa é ouvir o Rubens Ewald Filho. Ele fala com um conhecimento de causa que dá gosto, diferente de uma máquina de expelir informação, seu saber adquirido decorre de uma vida imersa naquilo que se diz profunda afinidade. Só que o filme de hoje não é pro meu bico, uma obra do craque Lumet que remete ao Mágico de Oz, que eu acho uma chatice de dar engulhos. A primeira vez que assisti esse programa, coisa de 3 meses atrás, estava em cartaz um filme sobre a vida do Glenn Miller. Rubens fez uma edulcorada explanação, e então temos James Stewart no papel do maestro, começa com ele subindo uma rua trazendo o trombone debaixo do braço pra colocar no prego. Colírio para os sensores de um tiozinho, Miller achava que a sonoridade das orquestras em geral não estava à contendo e ele perseguiu a idéia de uma nova combinação de timbres. É assaz prazeroso vê-lo compor Moonlight Serenade. Há um momento em que ele pede a mulher em casamento e ela retruca: não vou casar, porque você não vai dar em nada na vida. Desta feita a intuição feminina não funcionou.

Miller, assim como o mago Exupery, fez um vôo só de ida para um local que até hoje ninguém voltou pra reclamar.


(Imagem: Georges Seurat. Passeio noturno.  1887-88)
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 09/10/2014
Reeditado em 21/09/2020
Código do texto: T4993622
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