Madalena

Maria Madalena é minha querida mãe, mas Madalena chegou por acaso. Foi encontrada na rua pela vizinha, que a presenteou para a outra, que por sua vez cedeu-a para a terceira vizinha, que sou quem vos fala.

Foi amor ao primeiro miado! Ela me olhou com seus olhinhos azuis e eu amei-a desde então. Já falei que é siamesa? Não? Pois é! Siamesa como nunca vi! Tem pelos bege-claros, orelhas firmes e muito carisma!

Não possuía gatos ainda por temer pela segurança dos passarinhos,por isso sufoquei por tanto tempo a saudade que sentia desses formidáveis bichanos- quando criança, não faltavam gatos lá em casa.

Com Madalena não resisti, quase implorei que fosse minha. Veio para mim mas vivia mais na antiga dona que no doce lar. Isso me incomodava e ela desdenhava da minha aflição com uma maldade felina!

Até que um dia percebi que a gatinha dava um jeito de sempre ficar onde eu estava. No banheiro sentava pacientemente na porta a me esperar; na cozinha precisava de cautela para não pisá-la; à noite só dormia quando eu ia dormir- acho que a conquistei também.

Madalenas tem um caráter ímpar, são leais e resignadas. A outra, não fosse o Senhor Jesus, morreria apedrejada, certa de que merecia tamanho castigo. A minha nunca reclama, pede comida educadamente, só bebe água fresca e faz suas necessidades enterrando ecologicamente em seguida.

Aos oito anos, um homem que não gostava de gatos como eu gosto, capturou um que perambulava pelo quintal e o atirou de encontro ao muro. O bichinho ficou bastante ferido e o meu coração sangrou, copiosamente. Nunca entendi atitudes assim. Os bichos ensinam civilidade a muitos humanos selvagens, creio eu.

Minha amiga felina vai ser mamãe! Ela está com uma linda barriguinha! Estamos mais próximas que nunca, afinal, a maternidade tem o poder de tornar as mulheres mais cúmplices umas das outras. Talvez da próxima vez eu lhes apresente o pequeno Valdir, ou a doce Helena, ou as siamesas Nilda e Rose, enfim... são tantos os gatinhos que Madalena ainda poderá ter... todos miando e ronronando, povoando minha perfumada vida.