Quando me apaixonei...

Um dia, olhei-me no espelho. Há tempos evitava esta afronta ao meu ego. Da mesma forma que passava bem distante da balança. Confrontar-se com o já conhecido era, para mim, uma desnecessidade que só me faria mal. “Para que sofrer além do que já sofro?”, pensava.

Havia passado por tempos muitos turbulentos, um casamento que havia terminado de forma muito catastrófica, com minha filha ainda de colo, problemas decorrentes da separação, como falta de dinheiro, desamor e baixa auto-estima, solidão... e como “desgraça pouca é bobagem”, perdi, ao mesmo tempo, os dois empregos que tinha. Resultado: entrei em depressão. E para completar o vazio existencial... comi o mundo. Em pouquíssimo tempo, podia-se comprovar na balança que apesar dos cento e vinte e seis quilogramas, a existência de um ser não pode ser completado pela comida, por doces, massas e guloseimas, pois eu continuava deprimida.

Foram várias as tentativas para perder peso, todas inúteis. Escondia-me atrás do problema. Na verdade, era cômodo afogar minhas mágoas numa bacia de pipoca. Ao mesmo tempo, não conseguia me controlar, era mais forte do que todo e qualquer esforço que fizesse. Tinha nojo de mim. Sentia vergonha de comer na frente dos outros. Não me sentia feminina ao devorar uma caixa inteira de bombons. Não sentia prazer em comer, pelo contrário, comia por comer, até ver o pacote esvaziado, como que para resolver logo aquilo e pronto. Não sabia comer uma fatia de um bolo, tinha que comê-lo inteiro.

Problemas físicos já começavam a aparecer. O pior deles é que já não conseguia controlar minha bexiga por muito tempo. E eu tinha apenas 27 anos! Minhas pernas e pés doíam. Não conseguia dormir, acordava sempre cansada. Ficar sentada era cansativo. Ficar em pé também o era...

Saber dizer exatamente o dia em que este processo começou, não sei. O que posso relatar, é que um dia, tomei a decisão de emagrecer e ficar saudável e pronto! Marquei um horário no médico, fiz todas as avaliações e ele me disse que precisava perder, no mínimo, uns trinta quilos. “Ah, tá bom...”, pensei. “Esta será apenas minha primeira meta”.

E comecei, a partir daí, como na paixão à primeira vista, a apaixonar-me por mim... Comecei a valorizar cada pedaço de tempo que tenho para viver. A escutar mais música e procurar vivenciar a poesia da letra. A observar mais o céu e suas nuvens ou suas estrelas. A sorrir para crianças e velhos nas ruas, e observar a beleza da diferença entre as pessoas. A prestar atenção na minha filha e nas lições de vida que diariamente ela me ensina. A saber que problemas têm soluções, e foram feitos para nos tornar mais fortes. A saber que as verdades dos outros nem sempre servem para mim, assim como as minhas nem sempre servem para os outros, e que não adianta ficar brava se não acatarem minha vontade. Aprendi que nasci para ser feliz, e que momentos de tristeza são importantes para sabermos valorizar a alegria da vida, do sorriso. E que saudade também é importante, para valorizarmos a presença, o companheirismo. Aprendi que amigos são a família que escolhemos para nós e que se soubermos semear, sempre colheremos frutos maravilhosos do jardim da amizade. Aprendi que existem mais pessoas que torcem por mim do que imaginava... e também, que existem mais pessoas que esperam minha derrota do que imaginava... por isso, preciso ser forte sempre, e saber dosar a ingenuidade da menina com a sabedoria da mulher.

Um amigo disse-me, certa vez, referindo-se a um grande sucesso da atualidade: “você, com certeza, utilizou ‘O Segredo’ para emagrecer...”

“Com certeza foi isso mesmo”, respondi. Pois tudo o que queremos, está ao alcance de nossas mãos, basta querer, com muita vontade, e o mundo conspirará para que você consiga o que quer.

Hoje, com 60 kilos a menos, sou quase metade do que era, mas, com certeza, tenho o dobro da capacidade de ser feliz do que tinha quando me apaixonei por mim...

E você? Já se apaixonou por si mesmo? O que está esperando?...

Caroline Schneider
Enviado por Caroline Schneider em 24/05/2007
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