AS MENINAS DE PROGRAMA

Estas criaturas, sirigaitas da vida, existem desde que Deus perdeu o controle da humanidade para o capeta. No tempo de Jesus elas eram sumariamente apedrejadas até a morte, com exceção de uma ou de outra que fora salva pelo Bom Pastor, mas hoje estas piranhas safadinhas estão soltinhas por aí, e por incrível que pareça até se discute no congresso nacional a aprovação de uma lei regulamentando a profissão de prostituta como uma atividade prestadora de serviço.

Perguntaram ao Papa o que ele achava destas vadias ele disse: - Quem sou eu para condenar se nem Jesus Cristo condenou?

No meu tempo de moleque elas tinham permissão, para num dia x da semana, sair de seus puteiros para compras na cidade e exibir seus predicados. As boas e santas senhoras de família, neste dia, se fechavam em casa, rezando terços e cuidando atentamente de seus filhos que ainda eram desprovidos de pelos nos sacos.

Hoje estas assanhadas sexuais lamentavelmente se misturam nas famílias, nas igrejas, ruas, escolas e na política. Será que o mundo virou um prostíbulo?

As mariposas pecadoras se esgueiram pelas sombras na busca de uma tênue luz para iluminar seus devassos prazeres. Os incautos caem como moscas no mel.

E assim caminha a humanidade.

Ainda não conhecia meu vô Moises, e por certo bateu nele uma vontade louca de conhecer seus netos desconhecidos que moravam na distante cidade de Apucarana, e resolveu viajar.

Meu avô combinou com seu filho Hugo, meu tio, irmão de meu pai, e programaram a viagem para o norte do estado. Embarcaram no vapor em São Mateus, e em Porto Amazonas pegaram o trem para Curitiba. Depois de quase três dias de cansativa viagem chegaram finalmente de trem em Apucarana.

Meu tio Hugo era ainda glabro, pois pela pouca idade de seu esqueleto, era de rosto e saco completamente pelado.

Eu tenho uma lembrança um tanto vaga desse tempo, mas sei que foi uma bela festa, e muita alegria com a chegada do vô Moises e tio Hugo.

Vô Moises era um caboclo muito curioso, e gostava de desvendar todos os segredos da vida. Havia muitas novidades que ele foi pesquisando e anotando.

Um dia, depois do café da manhã, saiu ele em companhia do tio Hugo para uns passeios de reconhecimento.

O almoço chegou, e ficamos preocupados com a ausência dos dois. Um celular nesse momento ajudaria bastante, mas naquela época nem telefone existia, apenas o telégrafo.

Almoçamos e a mãe teve o cuidado de deixar dois pratos prontos na beira do fogão à lenha.

Já na boca da noite chegaram os dois.

O vô Moises sério e o tio rindo.

A um canto meu pai e os dois confidenciavam alguma coisa e lembro que o pai perguntou:

- Mas como é que vocês caíram nessa?

Pelo desenrolar da conversa entendi que meu avô acabou perdendo todo o dinheiro que tinha para umas alegres meninas.

Só sei que meu pai teve que financiar a volta dos dois.

Cogitando cá com meus botões eu construí alguns cenários.

Ou era dia de permissão para as garotas do prazer andarem zanzando, sacolejando seus quadris pela cidade na busca de auxílio, e meu avô resolveu ajuda-las caridosamente com alguma quantia de dinheiro. Ou então uma putinha, vadia safada, resolveu aplicar o golpe amoroso nele.

Meu pai nunca me revelou o que realmente aconteceu, mas eu sei que ele sabe, lá isso ele sabe com precisão, o que aconteceu com o pai e irmão dele naquele dia.

Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 14/10/2014
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