Migalhas

Certo dia andando para o trabalho percebi um grupo de crianças indo à escola. Iam se rindo , cantando, brincando e comendo bolachas e pães. As mesmas falavam alto, riam com histeria e ficavam imitando as pessoas que passavam. No caminho deixavam um rastro de migalhas e farelos de pão, que caiam ocasionalmente quando comiam.

Num dado momento percebi que uma das meninas jogava propositadamente pedaços pequenos de pão, lembrei da história de João e Maria e intrigada imaginei que a menina no uso da sua imaginação fértil estava fazendo igual o casal de irmão fez para não perder-se no clássico conto de João e Maria.

Muito curiosa apressei o passo e fui ter com ela, então de perto observei o quão linda era a menina , em seus profundos olhinhos negros, contrastando com uma pele de cor de neve, cheia de cachos nos cabelos com uma cor de ferrugem. Assim que me viu esboçou um reluzente sorriso meigo e simpático. Passei a mão em seus cabelos e disse-lhe que estava curiosa para saber o que ela estava pretendendo jogando pequenos pedaços de pão e com tom de leveza perguntei se ela estava com medo de se perder no que ela rindo-se com vontade e explicou com voz de anjo que as migalhas eram para o Lobo, um cão da raça labrador, para que o mesmo encontra-se o caminho da escola e na volta pudesse vir acompanhando ela e seu irmãozinho.

Achei uma grande ingenuidade dela acreditar que as migalhas jogadas iriam conduzir o cachorro até a escola. Mas nada falei e fui embora. Mas confesso não resisti e na volta pra casa refiz o trajeto afim de reencontrar aquela menina e pude ver com meus próprios olhos ela andando ao lado de um gigantesco cão da cor preta com cara de sapeca e olhar pidão.

Muito surpresa aproximei-me e perguntei como aquilo era possível, espantada perguntei como poderia o cão ter seguido as migalhas então a menina com grande doçura disse que sua mãe está doente e o cão lhe faz companhia até que seu pai retornasse do trabalho, mas que ele adorava ir buscar a ela e o irmão na escola então eles tiveram a grande ideia de deixar um rastro para que o cachorro pudesse localiza-los. Achei lindo o argumento dela e me emocionei com o relato da fidelidade do cachorro, chamei o cachorro pelo nome e ele feliz deu-me algumas cabeçadas de leve e balançando o rabo foi me acompanhando.. ai veio para mim a maior de todas as surpresas. A menina falou que o cachorro era cego e por isto somente era guiado pelo cheiro.. Chorei de ver o lindo relacionamento entre as crianças e os animais de estimação. Está história marcou a minha vida e fez-me ver o quanto podemos ser imensamente felizes praticando tão simples ações.