Quando a festa acaba

É que a gente finge, finge que ta bem, que o mundo não ta desmoronando, que a vida não ta uma merda, a gente finge que aguenta, que vai melhorar, finge tanto, finge bem, tentando e rezando pra que um dia isso realmente aconteça.

E não, eu não sei lidar, quando a festa acaba, as pessoas se vão, na hora de limpar a bagunça eu me perco, eu olho pra tanta coisa deixada pra trás, tantos momentos passados, tenho vontade de sentar e ver até onde vai, mas se eu não arrumar até de manhã alguém repara, então acho melhor esconder, é muito serviço, é pouco eu, é pouco nós, na verdade quase não tem, além dessa sua parte em mim, sobra somente a mim, de novo olhando para a bagunça de mais uma festa, de mais um dia que se vai.

A vida vai passando e de tanta bagunça já não consigo esconder quase nada, um dia tudo vai explodir e algumas pessoas vão correr para ver se fui atingido, não vão me encontrar, eu serei a explosão, o motivo de tanto barulho, serei forte, daquelas que se sente o tremor no outro quarteirão, quem sabe assim você me vê, quem sabe assim eu chame atenção de tanta gente, de tanta coisa, quem sabe assim eu posso dizer que estou cansado de arrumar tudo assim que começo a gostar do que está tocando, cansado de meias músicas tocadas, cansado do fim.

De tanta bagunça instalada em um só lugar, de tantos finais felizes que nunca aconteceram, de tanta gente que passa é que se vai na velocidade da luz, no fim eu lembrei de uma bagunça maior, uma festa rápida, daquelas que quando vi o estrago fiquei sentado por horas pensando no que eu ia arrumar primeiro, devia ter cedido o espaço um tempo antes, a festa mal começou e já começou a acabar, talvez se tivesse sido mais educado, talvez assim a festa poderia não acabar, talvez sem bagunça pra arrumar, talvez mais feliz, talvez essa explosão faça sentido, talvez quando descobrirem qual o perigo dessa bomba explodir e o estrago as pessoas se afastem de vez, talvez nova festa, nova bagunça, ficar sentado vendo tudo passar, pena que essa festa acabou, eu gostava tanto desse som.

Paulo Victor Ribeiro
Enviado por Paulo Victor Ribeiro em 22/10/2014
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