O CAMINHO CONTINUA ALÉM DO PONTO MAIS DISTANTE QUE POSSA ENXERGAR

A colega de trabalho parece tomada por uma crise de ansiedade infinita, procurando desesperadamente por algo dentro de sua bolsa. São dias longos, esses de verão artificial, tento dizer para encerrar a interminável busca. Ela diz que é final de expediente e que gostaria de companhia para uma cerveja e nos dirigimos ao local mais próximo em busca de algo para refrescar esse excesso de barulho que nos faz transpirar. No muro a nossa frente uma frase chama a atenção: NÃO EXISTE VIDA ENTRE O SACRIFICIO DO TRABALHO E O INICIO DA EMBRIAGUEZ. Pergunto se ela acredita ser verdadeiro. Ela me diz estar embriagada a tanto tempo que não consegue mais notar a diferença entre o início da jornada de quando se fecham as muralhas, e que em algumas vezes a única coisa que sente de verdade é o vento. Ela ainda afirmou com todas as letras que não, não há mais vida, apenas formas elegantes (ou não) de morrer. Eu brinco e falo que todo esse horror que ela sente exige respostas, e quem sabe não seria um bom momento para ela viajar para o meio do desconhecido e deixar a loucura do dia a dia escoar feito areia na ampulheta. Ela sorri, finaliza o copo, e o nosso papo dizendo que precisamos sim, construir sonhos nesse mundo de pesadelo, e que dormir está se tornando tão difícil que logo iremos precisar de alarmes para podermos despertar de nossa realidade. Nesse exato momento percebo que estou muito atrasado, sem saber ao certo qual era o compromisso.

De mais uma folha perdida e incinerada dos velhos cadernos de 2000.