POR QUE OS PÁSSAROS MORREM?
 
Lembrei-me que certa vez perguntei a minha mãe por que os pássaros morrem. Ela olhou-me com surpresa e em seguida franziu a testa, suspirou e olhando pela janela fitou o céu Em seguida respondeu-me procurando palavras com as quais eu pudesse entender que todo ser vivo tem seu tempo de vida desde o nascimento até que chega a hora de voltar para perto de Deus.
Para cada pássaro que morre outro certamente nasce para a perpetuação da espécie, pois cada espécie tem uma missão a cumprir, pois assim é o ciclo da vida. Cada espécie tem um canto característico, uma forma de vida peculiar e um jeito diferente de viver, mas são todos os pássaros juntos que dão vida e beleza as florestas com seus cantos e sua tarefa de espalhar sementes reflorestando cada espaço por onde passam.
Lembrei-me que meu avô tinha em casa um pássaro preto. Todos os dias ele colocava a gaiola sobre a mesa e abria a portinhola. O pássaro saía e ficava andando calmamente na mesa enquanto meu avô limpava a gaiola e colocava comida e água. Por um bom tempo ficava na mesa, ora caminhando, ora indo para perto do meu avô que lhe oferecia o dedo e ele subia enquanto meu recebia carinho na cabeça. Depois de algum tempo ele mesmo entrava e ia para o coxo procurar comida. Meu avô pegava a gaiola e a colocava dependurada na parede. O pássaro era o xodó da casa e nos brindava sempre com um canto maravilhoso quando percebia a presença de alguém. Certo dia, perguntei ao meu avô por que o mantinha preso na gaiola. A resposta foi que ele o ganhara de um amigo e soltá-lo depois de tantos anos seria maldade e certamente ele não sobreviveria, pois estava acostumado assim. Os anos passaram e o pássaro preto ficou cego e continuava cantando. Morreu de velhice levando todos às lágrimas quando viram seu corpo inerte no chão da gaiola.
Hoje perdi meu pássaro. Estava conosco há mais de vinte anos. Eu o encontrara na rua procurando comida e quando me aproximei, ao invés de fugir ele simplesmente subiu em meu dedo. Certamente havia fugido de alguma gaiola e estava com fome. Trouxe-o para casa e o coloquei em uma gaiola, mas sempre o tiráva-mos para brincar com ele e dar-lhe um pouco de liberdade. Por diversas vezes pensei em soltá-lo ou doá-lo para algum zoológico ou parque, mas sempre temi por sua sorte. E também porque ele já estava acostumado conosco.
Hoje ele se foi. Quando o vi em seus últimos momentos retirei-o da gaiola e o coloquei na palma de minha mão. Morreu assim enquanto eu o acariciava. Fiz questão que sua alma (penso que os animais têm alma sim) voasse livre quando deixasse seu corpo e não ficasse aprisionada na gaiola onde ele permaneceu por tanto tempo.
Agora ele está livre no mundo espiritual, certamente ao lado de São Francisco e de Deus.  Guardarei saudade do nosso querido amigo que nos deixou às lágrimas ao partir.

 

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Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 25/10/2014
Reeditado em 25/10/2014
Código do texto: T5011731
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