Tô Me Guardando pra Quando o Amigo Voltar

Por detrás de um dia mal acordado há unidades ou episódios destacados, que quando cronologicamente somados desvendam as leis da perfídia e do pecado.

Tais normas domam a receita, é o fermento e o comentário. Por isso, pouco adianta reclamar do que já se foi, da recordação, vestir a mortalha ou de coisa que o valha. Nem se olhas e não enxergas nada, porque o germe que mora no passado não é vida real, é plágio, desde o primo estágio. É engodo, ou da história é só o rebotalho.

Os Capítulos e Versículos promovem essa teoria, de que devemos nos afastar sempre desse tipo de agonia, pois se não achas nada ao amanhecer, espera a volta do anoitecer, desliga as luzes, é melhor sorrir sonhando do que marchar triste perambulando.

O fio da narrativa desalinhado e oxidado gerou a história de um homem que desdenhou do que havia de ser cuidado. Não lhe há mais ninguém, nem o tempo, nem o lugar, nem as coisas semelhantes, nem mesmo o ar. Descuidou do amor e dos amigos que devia amar. Quis ser independente, esboçou um andar descontente, largou tudo e foi embora, deixou os amigos de todas as horas.

Monta agora numa cavalgada sombria, sem a luz dos companheiros de outrora, costura protestos eventuais, força-se a viver como ermitão, num lugar qualquer na mais impura rejeição.

Entenderá, todavia, que toda casa mal começada, seja de lata ou metralha, termina por ser obra mal fechada. Avaliará sua estratégia. Segurará o cavalo pela rédea. Fará o barco guinar e o trem retornar. As águas das bênçãos descerão pelas ladeiras e o fogo da vida reacenderá nas lareiras. Volverá então para a adequada estação. Nessa esquina simplória, sem seno, cosseno ou equação, onde moram o amor e a glória, em convergência e função.

Abraçará a todos novamente, penetrando corações e mentes, registrando na pedra e no papiro, pra nunca mais esquecer e fazer, o que foi feito de diferente. Repetirá mil vezes em sussurros como serpente, passará de boca em boca em narrativa inteligente, dando vivas de alegrias, eis que de repente voltará o menino indulgente, pro seio dos amigos para sempre.
MARCELO RUSSELL
Enviado por MARCELO RUSSELL em 05/11/2014
Código do texto: T5024072
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