PADIOLA

P A D I O L A

Como os tempos mudaram! No meu tempo de menino, quando alguém morria na zona rural, todos se movimentavam para amenizar o sofrimento da família.

A primeira providência era chamar um carpinteiro para fazer o caixão. Ele vinha, arranjava as tábuas, que geralmente eram conseguidas com o meu pai Zé Carneiro, na fazenda Baía. Muitas vezes ouvíamos o som do martelo sobre os pregos do caixão, o que nos causava muito medo.

Em seguida, era enviado um “portador” a Calambau para comprar o "funeral”, como diziam: pano para o caixão, meias pretas, véus, etc.

O que não podia faltar, de jeito nenhum, era a pinga. Quem virava a noite no velório, de vez em quando, dava uma “bicada” no garrafão. Ao lado da pinga estava sempre presente o tabuleiro de broas de fubá e a chaleira de café fumegante.

Conta-se que, certa vez, um rapaz bebeu tanto que foi dormir ao lado do defunto que ainda estava na cama. Já dizia um matuto da terra: "Por aqui, no velório, pode até faltar o defunto, mas a cachaça, jamais..."

Um pouco antes do sepultamento, algumas pessoas iam até um mato próximo e cortavam duas varas resistentes que, colocadas horizontalmente, eram unidas por pequenas tábuas, assemelhando-se a uma escada. Esta era a padiola sobre a qual seria colocado o caixão.

Algumas pessoas iam a pé e carregavam o caixão até a cidade. A maioria ia a cavalo.

Chegando à porta da Igreja, o caixão era retirado da padiola e conduzido ao interior da mesma.

A padiola era levada até a ponte de madeira e lançada sobre o rio Piranga aumentando sua poluição.

Após o sepultamento, o pessoal ia para os bares e botecos da cidade. Dependendo da região de origem do defunto, alguns comerciantes achavam melhor fechar os seus estabelecimentos, pois alguns “bêbados” eram insuportáveis.

Enterrado o defunto, a pinga continuava a rolar...

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 06/11/2014
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