Crescer Dói

Estava eu a refletir, numa bela tarde chuvosa de sexta-feira, quando lembranças da minha infância povoaram minha mente: lembrei da simplicidade de um tempo em que era preciso tão pouco para sentir-se completo. Alguém já disse que a infância é o paraíso perdido de cada um de nós e outro já disse que o maior paradoxo da existência reside na busca intrépida por “ser adulto” quando se é criança e, chegando a idade adulta, a busca incessante se volta para a infância. Tarde demais!

Este tempo gracioso da vida é rebuscado a todo momento. Parafraseando um outro autor desconhecido, diz-se, na infância, joelhos ralados cicatrizavam rápido, ao contrário de um coração partido, a partir da adolescência. Coração partido não apenas por amores não realizados, mas decepcionado com as causas, com as instituições, com as pessoas. Até mesmo com a própria sensação de não ter vivido intensamente a já perdida infância. Foi então que cheguei à conclusão: crescer dói! É doloroso deixar a fase da vida em cores e migrar para uma nova fase em que se enxerga tudo em preto ou branco, ou no máximo, cinza.

Crescer é demasiadamente doloroso. Mas necessário! É preferível crescer que atrofiar-se. Ficar eternamente no casulo da infância seria muito bom, mas e a transformação que está em nossas mãos? Quem iria fazer? Não que as crianças não transformem com seus ensinamentos que, vez em quando, nos deixam boquiabertos, mas quem pleitearia transformar a realidade socioeconômica e política? Daí a importância de assumir em suas mãos a mudança, este poder que a juventude tem de, com sua força, não só ensinar, mas também transformar. A infância pode ser o nosso paraíso, o tempo das nossas fantasias, mas a juventude é o tempo da realização, de tomar nas próprias mãos o destino e dar o tom à nossa vida, pelo qual seremos lembrados.

Assim, persiste o meu paradoxo: apesar de ser um saudosista da infância, sou o sonhador utópico de uma atual e futura sociedade mais justa e igualitária, fraterna e solidária. Para vencer, às vezes precisamos perder e, sem a dor do crescer, não se atinge a maturidade.

Crescer dói! Mas ficar atrofiado pode doer muito mais!

“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.”

(1 Coríntios 13:11)

Marquinhos Araújo
Enviado por Marquinhos Araújo em 08/11/2014
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