REFLEXÕES ÀS MARGENS DO RIACHO

Descemos pela íngreme trilha que leva ao riacho de margens repletas de um arvoredo denso, entremeado de cipós, samambaias e florzinhas anônimas. A profusão de verdes , sob a luz filtrada do sol, dá a impressão de um quadro de Monet. A exata compreensão do mestre com a sua falta de contornos, o seu cromatismo intenso, as refrações, as profundidades, as manchas que vão e vêm, estava ali, numa aula autêntica da mãe e mestra natureza. As folhas secas eram um imenso tapete a amortecer nossos passos indecisos, acostumados ao concreto e ao asfalto negro e sem graça.

Escolhemos um pedacinho de chão e sentamos. Por minutos ficamos silenciosas, somente a observar, atentas, a beleza do lugar, a ouvir o canto suave do bambual e os estalidos dos pequenos insetos. O riacho corria manso, inexorável em seu curso, ondulando ao sabor da brisa que soprava despretensiosa. Acordamos! A vida, assim como as águas daquele pequeno rio, não nos permite voltas. O que está feito está feito. Podemos nos redimir, mas o momento que passou fica intacto na anterioridade.

A paz do lugar propôs o seu inverso. Por que o grotesco do mundo urbano? Por que a ganância? Por que a ânsia de poder? Basta que a natureza acorde de mau humor para que as coisas humanas se desarranjem ... A impotência dos homens diante da natureza é patética! Uma luta vã de gato e rato da qual sabemos o resultado, mas nos recusamos a aceitar o veredito como se isso pudesse ser a salvação dos incautos.

É urgente mudar a visão humana da vida. Porém, esta mudança não vem de cima para baixo. Ela deve brotar do anseio de cada um de nós. Da escolha consciente em trilhar outros caminhos. A verdade, o bom caráter, a conduta correta, o controle dos sentidos, a austeridade, a renúncia e a não-violência seriam os critérios para uma vida nova. Difícil num mundo dos contrários , mas possíveis se houvesse mesmo vontade de mudar.

Acostumados a uma escuridão que não nos deixa ver o que está a nossa volta tal como é, sofreremos ao deixar a luz entrar, pois, neste momento, tudo se apresentará nua e cruamente aos nossos olhos. A mudança se fará, com certeza, dolorosamente, todavia, o resultado nos fará melhores.

E por aí foram as nossas reflexões às margens do riacho...

Anna del Pueblo
Enviado por Anna del Pueblo em 16/11/2014
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