A VIDA PASSA, QUAL TREM...

A VIDA PASSA, QUAL TREM...

"A Vida passa, qual trem, / com variado

itinerário, / andando num vai-e-vem /

sempre no mesmo cenário". (trova)

"NATO" AZEVEDO

Mas quando surge um fato novo em nossa

vida, nós voltamos ao Passado e passamos

a desenterrá-lo -- ou puxar uma linha -- e o

Passado vai se revelando, mesmo que meio

opaco, sem muita nitidez. (trecho de email)

AUGUSTO SPISLA (em 4/3/2008)

Enfim, mais de 30 ex-alunos do Seminário Menor s. Vicente de Paulo o visitaram no feriado de 15 de novembro passado. Certamente foi emocionante, 35, 40, 45 ANOS depois voltar a percorrer os longos corredores e os 2 imensos dormitórios, hoje transformados em belas salas de aula... o Colégio atual é de primeira linha, um luxo, um Brasil que pouco se vê já que Prefeituras no país inteiro constroem verdadeiras "gaiolas" mal iluminadas e sem ventilação. Espero que o Colégio SVP lembre-se dos meninos pobres das redondezas e possibilite a alguns deles poder estudar nessa maravilha.

Paulo Fadel nos brinda (no FACEBOOK) com belos retratos do Passado "retocados e renovados"... antigos corredores, salas, o refeitório, a convidativa piscina que nunca pude experimentar. Acompanha as fotos breve crônica dos tempos idos, brumas do Passado se desvanecendo a cada palavra.

Tomo a liberdade de reproduzir email particular (de 4/março 2008) do ex-aluno AUGUSTO SPISLA, meu colega de sala em 1965/66 e que eu invejava por ser o autor de uma coluna na revista "ENTRE AMIGOS". Êle e o Aloísio Cansian produziam os textos, à guisa de Diário que, de tão "retocados e revisados" não deixavam uma só frase dos 2 meninos.

Por falar em "inveja", não sei que tipos de diversão os alunos mais recentes (dos anos 70 até 1985) do SM tinham, nas horas vagas. No nosso tempo, só 1 mesa de pingpong e a Sala de Música, bem em frente, sem Banda formada mas onde se podia praticar algum instrumento. Pois não é que eu invejava o Augusto até no pingpong, que êle jogava muito bem... em 2 anos lá peguei na raquete umas 4 ou 5 vezes !

Abaixo, um "CONFITEOR" de meu amigo, que só me encontrou (na Internet) por puro acaso, porque escrevi errado o sobrenome de um amigo comum, trocando o S por um C. Foi preciso que êle também errasse... e o Destino NOS (re)UNIU 43 anos depois.

Augusto Spisla quer esperar a aposentadoria (?!) para se tornar escritor. A Vida não é tão previsível assim e suponho que meu tempo não seja tão longo também. Por isso exponho suas confidências, com o cuidado respeitoso de retirar o que considero mais pessoal. Não sou homem de bajulações e, por ver em seus escritos qualidade, quero repassá-los com os demais ex-alunos desse magnífico Colégio ao qual devemos tanto.

LEMBRANÇAS E LAMBANÇAS

Há uma força maior que nos move. Disso não há dúvidas. Não sabemos como, nem quando, mas por uma razão maior coisas que nem imaginamos acabam acontecendo. Você pode não acreditar, mas comigo aconteceu algo parecido ao acontecido com você. De minha infância pouca coisa restou, só vagas lembranças, só pequenas reminiscências. Talvez por ter sido uma infância na qual não vivíamos as nossas vidas. Éramos conduzidos a viver daquela maneira, sem qualquer liberdade e a lógica faz com que esqueçamos o que não nos traz alegrias. Às vezes chego a imaginar que éramos uns autômatos e não humanos. Quando eu saí, (...) procurei esquecer todo aquele meu passado. Mas, esquecer não é algo que dependa da nossa vontade. Para esquecer de fato, é só levar uma boa pancada na cabeça. E isso não aconteceu. Portanto, continuo lembrando algumas coisas daquele tempo, que, pensando bem, não foi de todo ruim. Não é possível avaliar se teria sido melhor fora de lá. Mas não dá para saber. Deixemos a cargo do Providência Divida qualquer julgamento. Afinal, há males que vêm para o bem e, ainda, Deus escreve direito por linhas tortas.

Descobrir o Cincinato depois de tanto tempo, foi sim obra de algum Anjo da Guarda. Na realidade, eu sequer lembrava desse nome. Só tinha uma vaga lembrança que em nossa sala havia um tal de carioca, que, parece, andava bastante de Alpargatas Roda e que tinha uma caneta esferográfica, que, ao escrever, largava tanta tinta e escrevia mais no verso do que no anverso das folhas do caderno. O seu caderno era todo azulão. Disso eu lembro. Do carioca, acho que era disso só que lembrava com nitidez Lembro, também, que ele dizia que tinha um irmão gêmeo e perguntávamos por que ele também não tinha vindo também para o seminário. E, é só de lembrança. Mas quando surge um fato novo em nossa vida, nós voltamos ao passado e passamos a desenterrá-lo, ou puxar uma linha, e o passado vai se revelando, mesmo que meio opaco, sem muita nitidez. Descobrir o Cincinato, foi sim obra do acaso. Na realidade, o que eu buscava era encontrar por onde andava um outro araucariano, um tal de Aloísio Cansian, com "s" mesmo. Só que ao escrever Cansian, no "GOOGLE", errei e escrevi "Cancian", com "c". Para minha surpresa, como resultado da minha pesquisa apareceu um tal de Augusto Spizla, com "z", que não era para ser eu, afinal eu sou Spisla, com "s". Mas era eu o tal Augusto. Aí, fruto da curiosidade, li o texto e consequentemente todos os outros textos do mesmo autor, um tal de "Nato" Azevedo. Meus olhos brilharam. Foi uma tarde maravilhosa. Não gosto de escrever, mas de ler gosto demais. Uma dessas incongruências da vida. E que textos agradáveis...Revirei meu passado. Lembrei do tal carioca. Associei carioca com Cincinato. Cincinato com Palmas, e daí foi um turbilhão total. Voltei ao passado. Lembrei de alguns outros, do De Carli (naquela foto ao meu lado), do Assis (à direita, ajoelhado), do Vaz (em pé, à esquerda), do Longo, do Greboge, do Lucasievicz e de outros, que agora, no momento, já não lembro mais. Lembrei do álbum lá em casa que algumas poucas fotos eu tinha daquele tempo. Logo que chegasse do trabalho, daria uma olhada para ver se havia algo que lembrasse mais das pessoas. Achei aquela foto, imaginando ser você aquele mesmo ali do meio. E foi isso. Pura casualidade. Agora, descobrir o seu e-mail foi chute mesmo. Acabei vendo que o e-mail do seu irmão era sergioleiteiro, alguma coisa assim, @yahoo.com. Imaginei que o seu poderia ser o seu nome, ou como você se denomina, e o mesmo provedor. Acertei na mosca. Se não fosse, dentro de alguns dias mandaria a mensagem a seu irmão, pedindo para ser ele o carteiro, entregando o texto para você.

Não tenho mantido nenhum contato com alguém daquela época. Foi até acho que proposital. Procurava não lembrar daqueles tempos. Hoje, é claro, superei isso. Caso contrário, seria algo patológico. Todos os possíveis contatos desapareceram. Pela garimpagem que às vezes faço no GOOGLE acabo descobrindo alguma coisa. Sei, por exemplo, que o Raul de Carli é um odontólogo, prá la de especialista. Padres, da nossa turma, parece que só dois, o Vilso Paulo Longo e o Pedrinho Greboge. Não imagino por onde andam. O seu padrinho de Crisma, como você disse, Pe. Ladislau Biernaski, agora é bispo em São José dos Pinhais, uma cidade da região Metropolitana de Curitiba. Li isso, nesta semana no Jornal Gazeta do Povo, grande jornal de Curitiba. O Dominique, que na realidade tem o nome de Domingos Wisniewski, é bispo de Apucarana, norte do Paraná, já há 22 anos. Pelo menos era em 2005. Não sei se ainda se encontra por lá. O seminário não existe mais. Só o prédio. Já há mais de 25 anos é um colégio, como qualquer colégio do segundo grau. Você pode dar uma olhada no site www.colegiosaovicente.com.br. Mesmo tendo como diretor um primo meu, Pe. Fabiano Spisla, pouca coisa mais a respeito sei. Agora, uma correção. O tal padre Jorge não era Mozart e sim Jorge Morkis. Bastante parecido é verdade. O tempo se encarrega de embaralhar as nossas idéias. (autor: AUGUSTO SPISLA -- email de 4 de março de 2008)

Desconheço o que houve no ensino musical do Seminário, mas me parece que as canções que lá aprendi foram quase todas relegadas ao esquecimento. Encerro esta crônica com trecho da "BARQUINHA": "A rósea luz do anoitecer / me infunde n'alma / a mais doce calma / no meu sofrer"!

"NATO" AZEVEDO (escritor e compositor)