Para que servem os avalistas

Na cidade, foi inaugurada a primeira agência do Banco do Brasil e, junto à equipe de jovens funcionários, vieram as linhas de crédito ao consumidor.

O lugarejo vivia exclusivamente da economia de contra-cheques e, assim, o crédito rápido e sem burocracia causou verdadeiro rebuliço: bicicletas, lambretas, motos, eletrodomésticos e materiais de construção eram adquiridas a toque de caixa.

Muitas casas residenciais passaram por reformas e receberam pinturas; novas lojas pipocavam aqui e acolá. Enfim, o aumento do volume de moeda circulante transformou o modus vivendi de Boa Vista.

Ouvi de um velho comerciante que o perigo se instala numa empresa quando a coluna de débitos se torna maior que a coluna de créditos. Na economia doméstica não é diferente e Washington Oliveira não estava preparado para lidar com bancos. Funcionário público, nível 8, ele, que recebia salário de Cr$800,00, arranjou dois avalistas e fez um papagaio de Cr$2.400,00 para ser pago em noventa dias (juros por dentro, claro).

O tempo passou e, ao cabo de três meses, Washington, beberrão irresponsável, não tinha dinheiro para quitar o compromisso assumido. Quinze dias após o vencimento da nota promissória, o gerente da agência bancária - depois de muito custo – conseguiu que o cliente, em casa, sob os efeitos da muita cachaça, atendesse o telefone. Deu-se, então, o diálogo:

- Senhor Washington Oliveira?

- Sim...

- Aqui é Eduardo Penhalozza, gerente do Banco do Brasil...

- E daí?

- Estou ligando pra dizer que seu papagaio venceu...

- Venceu? Má rapá! Eu nem sabia que ele estava concorrendo com outros...

- Não, seu Washington. O senhor não entendeu... Estou falando do seu empréstimo... Aquele crédito que o banco lhe concedeu há mais de noventa dias...

- Ahn... E o senhor já falou com o Zé Pinheiro e o Alemão? Eles são os meus fiadores... Eu arranjei avalista bom foi pra isso mesmo... Como eu não posso pagar, quem paga são eles... Té logo! – Desligou o telefone, tomou mais uma talagada de aguardente Pitu, acendeu um cigarro e, de papo pro ar, perdeu-se em meditações.

e-mail: zepinheiro1@ibest.com.br

Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 28/05/2007
Código do texto: T504308