QUANDO O LIXO VIRA CONSUMO - II

Sinto uma pena enorme dessa geração atual, jovens e adolescentes totalmente alienados que, engolidos pela mercantilização da mídia, já não tem nenhum contato com a boa música de décadas passadas. Infelizmente, essa é a dura realidade. Por isso mesmo, insisto sempre ao bater nessa tecla, porque não me conformo em ouvir tanta MERDA no dia a dia e saber que essa garotada atual só tem isso para curtir, desconhecendo, em sua grande maioria, tudo aquilo que fora deixado pra trás.

Não importa o gênero, tampouco a nacionalidade. A música hoje, em nível mundial, vem perdendo no quesito originalidade de maneira assustadora. No Brasil, então, parece que se instalou o caos em definitivo, uma era de trevas na sonoridade musical. Qualitativamente falando, são poucas as figuras que se destacam a cada ano no cenário musical nacional. E sempre que surge algo novo, inevitavelmente passa por um covarde processo de “sugamento”, em que o artista tem a sua obra “consumida”, esgarçada, até que se esgotem todas as possibilidades.

Feliz é aquele que atravessou as décadas brilhantes de 1960, 70 e 80, e teve o privilégio de conhecer de perto a obra imortalizada dos Beatles, Elvis, Rolling Stones, Pink Floyd, Abba... e aqui no Brasil, Raul Seixas, Roberto Carlos, Tom Jobim, Pholhas, Mutantes... Legião Urbana, Cazuza... Esses sim, sabiam fazer músicas de qualidade, poupando-nos de ouvir esse lixo sonoro da atualidade.

Uma boa canção antigamente era apenas voz e um violão, uma letra bem composta, basicamente isso. Então porque nesse "lixo" de hoje em dia, ao qual se referem como música (Funk, Axé, Forró eletrônico, Sertanejo Universitário...) é necessário tanto barulho em sua execução? Trata-se de alguma imposição, por meio da força? MEU OUVIDO NÃO É PINICO!

Se essa "música" da atualidade, repito, a começar por esses Forrós eletrônicos “estilizados”, Funk, Sertanejo universitário... e todo um leque de porcarias inovadoras, se isso é o que chamam de evolução da música popular brasileira, eu realmente prefiro, mil vezes, viver do passado. E a propósito, o meu preconceito é minha arma de defesa.

Ainda hoje eu estava ouvindo Here Comes The Sun, dos Beatles, e me perguntando como pode canções tão belas como esta ficarem ocultas de tanta gente. Onde foi parar o bom gosto e a exigência musical do nosso povo, uma infinidade de pessoas que, independentemente de idade, nível social e mesmo educacional, se contenta agora com a sonoridade aberrante de uma cadela latindo em cima de um palco. Reflitam sobre isso...

"...apesar dessa voz chata e irrenitente eu não tô aqui prá me queixar e nem sou apenas o cantor. Eu já passei por Elvis Presley, imitei Mr. Bo Diddley, e eu já cansei de ver o sol se pôr..." (Raul Seixas). Intransigente, eu? Ninguém é obrigado a aceitar (engolir), numa boa, aquilo que, deliberadamente, não presta. Mas é que "gosto não se discute". Sério? Então se lamenta? De ditado popular, certas frases viraram agora clichês.

De tolerância em tolerância, de liberdades e liberdades cada vez mais exarcebadas é que o nosso país virou esse caos em que vive, principalmente musical. Quem foi que disse que a censura era assim tão mal? Mesmo ela tinha uma função muito importante durante a ditadura, que era a de "filtrar" os verdadeiros e talentosos artistas nacionais, não deixando passar qualquer porcaria (claro, havia as perseguições, enfim). Cantor ruim tem mesmo é que ir mostrar seu “talento” lá na p... que pariu!

Sabemos que pra tudo nessa vida existe um padrão, uma conformidade. Já pensaram no dia em que gato resolver latir? Ou que cachorro resolver miar? Então, meu nêgo, cada um na sua. Aquele que nasceu pra cantar debaixo do chuveiro ou nos karaokês da vida, contente-se com seu talento limitado. Que tal ir plantar batatas? O palco é para artistas e não para oportunistas.

Pois bem, tenho dito e repetido que cantor ruim, música pior ainda, pra mim é LIXO. E da mesma forma que esses cantores de merda têm o direito de expressar (expressar é peso!) suas ideias horrorosas, atirando suas porcarias nos meus ouvidos, eu também posso expor aqui a minha opinião sobre tal. E ponto final.

Paulo Seixas, abril/2013