Sabe-tudo

Criança quer saber tudo. Por que o céu é azul, o arco-íris é colorido, a lua não cai e as nuvens não param quietas num só lugar. Criança não tem medo de perguntar. Nas situações mais inapropriadas lá estão elas se arriscando com suas inúmeras interrogações: essa festa chata está acabando? que horas vão partir o bolo? tenho mesmo que brincar com o filho da sua amiga? por que tenho que emprestar meu brinquedo? Criança é sempre muito direta, não faz rodeios, vai direto ao assunto.

Interessante é que à medida que crescemos, a objetividade vai dando lugar a subjetividade. Deixamos de perguntar por medo, vergonha, sei lá. A criança curiosa se torna um adulto de respostas prontas, mergulhado em seu mundo interior, de certezas inquietas. Resumindo: vamos a festas que não queremos, de pessoas que não gostamos e fazemos questão de ficar até o final. Tudo o que uma criança – se tivesse a liberdade do adulto – jamais faria.

Movida pela curiosidade, a criança experimenta o mundo, onde tudo é novo e diferente, sem pré-conceitos e julgamentos. Diante do que não sabem, os pequenos são estimulados a desvendar o desconhecido a sua volta. Daí estão sempre sendo surpreendidos com felicidades aparentemente simples, mas muito cordiais, como um passeio, uma viagem, uma paisagem, um amigo especial.

Os adultos tendem a inibir essa vocação natural para a curiosidade. Não perguntam, não questionam, não esclarecem. Vivem na sofreguidão do não dito, do quase descoberto, do que poderia ter sido. E criança pensa que adulto sabe todas as respostas. Ledo engano. Sabe é inventar realidades em vez de criá-las... destruir sonhos, em vez de brinquedos. Adulto não devia nunca inibir a curiosidade infantil, que brinca, aprende e descobre o mundo a cada nova interrogação. Devia, sim, se perguntar todos os dias com sinceridade e inocência: “tenho mesmo que ficar nesta festa chata?” E sem medo de parecer infantil.

Publicada na Revista Lugar de Notícias - edição de agosto/2014