Portal do sertão

De costas para o Chuí, com pés apoiados no banhado de Itanhaém, a sua direita está à caatinga que quase alcança o Oiapoque e a sua esquerda fica a selva amazônica, no centro se encontra o sertão, ou seja, o cerrado o bioma dos sonhos.

Dialogar com o sertão transformou-se num sonho inesquecível mesmo muito antes de Guimarães Rosa. A força da madrugada transforma todos os prantos em nada, com o canto dos pássaros fazendo a alvorada.

No mundo tudo passa, tudo é predestinado, mas as rosas continuam perfumadas. Às vezes você pode estar ausente igual à missa de corpo presente e até hoje a comunidade não sabe que o vaqueiro sumiu. O prato é raso, mas ninguém caminha no sertão por um mero acaso.

Se você é traíra nunca alcançará a cultura caipira. No regimento interno quem cultiva paz nunca conhecerá o inferno em sua doce vida. Se você está sem inspiração faça uma caminhada pelo sertão, pois é extasiante ouvir na relva o som do vento cortante. Cultive essa arte e tenha certeza que ela passará a fazer parte de sua recuperação, pois todos os caminhantes assíduos no sertão não conhecem a tal depressão, a peste do mundo moderno.

Orvalho, relva o portal do sertão. Sua saudade quando malha corta mais que o fio da navalha, pois vem trazendo pra gente as coisas que a nossa mente vai tão longe buscar. O meu dicionário é a inspiração à luta de um talento roendo tudo por dentro, mas sem nunca cansar.

Nas ladeiras do absurdo nunca calei, pois não sou nenhum mudo. Matei meus demônios, pois o meu patrimônio é a fé em meu Deus. Nessas confluências atrevidas salvei minha vida domando cavalos bravos e o sol da Europa ausente aqui o ano todo presente faz a vida acontecer. E teve fim o carro de boi, as boiadas nas estradas e o poeirão; e um senhor assentado com os olhos em lágrimas revive a cena vendo num telão.