PANELAS E TAMPAS

A criatividade popular criou numerosos ditados formidáveis como os seguintes: “Um dia da caça, o outro do caçador”, “Quem quer vai, quem não quer manda”, “Para o bom entendedor meia palavra basta”, “Manda quem pode, obedece quem tem dívidas”, “Quem meu filho beija minha boca adoça”, “Quando um não quer, dois não brigam”, “Rei morto, rei posto”, “Uma andorinha só não faz, verão”, “Deus dá a farinha e o diabo fura o saco”...

Há um deles que me foi falado, há algum tempo, por uma amiga, quando comentávamos sobre uma pessoa que não nasceu rica, mas ostentava elevado padrão de vida (incompatível com seus negócios oficiais), frequentava as colunas sociais, mas, repentinamente, apareceu nas páginas policiais, envolvida com fraudes ao fisco: “O diabo ensina a fazer a panela, mas não ensina a fazer a tampa”!!. Interpretando esse dito, deduz-se que o “capiroto” dá ideias inteligentes para o sujeito fazer coisa errada, mas como quer apenas a sua alma, não lhe ensina a esconder completamente os mal feitos.

Tenho me lembrado continuamente desse último ditado, quando leio coisas sobre a “Operação Lava Jato”, que tem estarrecido todos os brasileiros não alienados - não exatamente pelo fato em si, pois ao que parece, fraudar e lesar o erário público é endêmico entre aqueles que “por fora são bela viola, mas por dentro são pão bolorento”-, mas, sobretudo, pelo número de envolvidos, pelo montante que foi surrupiado (cerca de R$10 bilhões), pelo engenhoso esquema que fraudava as licitações públicas, pela rede de pessoas que recebiam propinas na/da Petrobrás, pela lavagem de dinheiro e pela evasão de divisas.

O número de envolvidos só cresce, já tivemos 19 prisões, mas não pretendo falar sobre eles, já que as notícias pertinentes estão disponíveis em várias mídias. À guisa de diversão e reflexão, abordarei apenas o doleiro Alberto Youssef, em virtude de detalhes de sua história: o cara começou sua carreira em Curitiba-PR, como vendedor de pastel. Certo dia, inconformado com sua situação financeira, ou incentivado pela impunidade que grassa entre muitos políticos; ele pegou a “receita da panela” com o “tinhoso” e resolveu vender eletroeletrônicos do Paraguai. Com sua ascensão financeira vieram a vida nababesca, o prestígio entre os amigos e a “babação de ovo” por parte daqueles que sabem ser hipócritas, quando lhes convém, apesar de ter sido preso 09 vezes, acusado de contrabando.

Enquanto eu e você nos lascávamos trabalhando, Youssef e todos os seus parceiros ou admiradores vestiram-se ricamente, locomoveram-se de iate ou voaram nas primeiras classes, sorvendo champagne Dom Perignon 55, conhecendo esse mundão lindo do meu Deus e comendo delícias,graças à panela que o “coisa ruim” lhe ensinara a fazer!! Fico pensando quantas vezes ele foi anfitrião ou convidado para as festas dos bacanas, foi reverenciado ou bajulado nas colunas sociais.... E agora, quando a execração é pública, quando seus familiares devem estar vivendo o inferno da vergonha, o “sonegador da receita da tampa hermética” para encobrir os seus mal feitos, deve estar morrendo de rir.

Enquanto a população se indigna, critica o PT, o PMDB e o PP por estarem envolvidos nesse caso até o pescoço, pensando que essa prática é nova; eu, daqui do “cabo de boa esperança” onde me encontro, fico torcendo para que os homens da “lavadora” resolvam jatear todos os Estados e municípios brasileiros, embora eu presuma que vá faltar cadeia, pois duvido que o capeta só tenha ensinado a receita de panela sem tampa para essa corja.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 27/11/2014
Reeditado em 31/10/2017
Código do texto: T5050466
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