Palavras e Silêncios da Vida

Muitas vezes, o silêncio é uma maneira de compactuarmos uma confissão, apalpando palavras que são apenas nossas. O silêncio pode ser também o prenúncio de uma revelação, como se as palavras debruçassem-se em nosso pensamento, aguardando serem despertadas para a nossa voz.

Por outro lado, como compreendermos o curso da emoção do que se quer expor, delatando-se ao mundo? Declararmo-nos a um universo que pode ser apenas o olhar de quem amamos. As emoções... Elas que desalinham a vigilante razão, fazendo com que a face de alguns silêncios ruborizem.

Existem momentos que precisamos tão somente do encontrar de mãos que tudo dizem, quando se olham sem vidros a lhes embaçarem o toque. Há instantes em que apenas desejamos aquele olhar que nos siga, adivinhando-nos, mesmo depois da última curva, onde a palavra não pode ou não soube ser dita. É que existem dias, em que necessitamos mais do que o supor de apenas um sentido, que nos possa perceber e compreender.

Importante é que saibamos que não há nada, nem ninguém, que possa nos resgatar, se não nos dispusermos a nos encararmos em total nudez, diante do espelho do nosso olhar. Em momentos assim, haveremos de nos debruçarmos, como se abraçássemos os nossos próprios olhares, socorrendo-os. Este resgatar-nos, por vezes, pede que nos ofertemos uma carícia, um afago, porque perdoar-nos também faz parte do nosso processo de evolução; outras vezes, necessitamos de uma voz firme que nos reposicione em nossa condição de artífices do nosso destino e de responsáveis pelas escolhas que fazemos.

Somos nós que atribuímos significado e identidade ao nosso entorno. E o milagre da vida é mesmo a nossa capacidade de recriarmo-nos, ainda que nosso ponto de equilíbrio se nos afigure como o olho de um furacão, porque no ciclo vital da existência, tanto os aparentes desacertos, assim como os encontros fazem parte de um mesmo tear, onde tecemos o bordado da nossa história.

A claridade e o crescimento pessoal que buscamos advém também deste encontrarmo-nos com a nossa solidão, para compreendermos a linguagem que se expressa em silêncios em nosso íntimo.

Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 29/05/2007
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T505355