Sem intempéries, há seca! ... (EC)

A letra da antiga canção dos anos 80 composta por Sá e Guarabira, dizia em seu refrão: O sertão vai virar mar, dá no coração; O medo que algum dia o mar também vire sertão...

A letra completa tinha: O homem chega, já desfaz a natureza; Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar; O São Francisco lá pra cima da Bahia; Diz que dia menos dia vai subir bem devagar; E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar;; O sertão vai virar mar, dá no coração; O medo que algum dia o mar também vire sertão;; Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé; Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir; Debaixo d'água lá se vai a vida inteira; Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir; Vai ter barragem no salto do Sobradinho; E o povo vai-se embora com medo de se afogar.; Remanso, Casa Nova, Sento-Sé; Pilão Arcado, Sobradinho; Adeus, Adeus ...

O tempo passou e o que vemos é que parte da profecia contida na letra da canção está ocorrendo. No medo que algum dia o mar também vire sertão... Aqui, pelo Sudeste o sinal vermelho já está prá lá de aceso... Estamos vivendo a maior estiagem de todos os tempos e está comum, quando há prenúncio de qualquer intempérie, ouvirmos coisas como: Ainda bem! Já passou da hora! Graças a Deus! Tomara! Só assim para amenizar esse calor causticante!

Já ouvi Graças partidas da boca de pessoas que ojerizavam a bendita chuva, esquecendo ou fazendo-se de surdas para, por exemplo, para a inspirada letra da canção de 1976 do talentoso ‘sempre jovem’ Guilherme Arantes quando compôs a música Planeta água, cuja letra ‘ouso’ também repassar: Água que nasce na fonte serena do mundo; E que abre um profundo grotão; Água que faz inocente riacho; E deságua na corrente do ribeirão; Águas escuras dos rios; Que levam a fertilidade ao sertão; Águas que banham aldeias; E matam a sede da população; Águas que caem das pedras; No véu das cascatas, ronco de trovão; E depois dormem tranquilas; No leito dos lagos; No leito dos lagos;; Água dos igarapés; Onde Iara, a mãe d'água; É misteriosa canção; Água que o sol evapora; Pro céu vai embora; Virar nuvens de algodão;; Gotas de água da chuva; Alegre arco-íris sobre a plantação; Gotas de água da chuva; Tão tristes, são lágrimas na inundação;; Águas que movem moinhos; São as mesmas águas que encharcam o chão; E sempre voltam humildes; Pro fundo da terra; Pro fundo da terra;; Terra! Planeta Água; Terra! Planeta Água; Terra! Planeta Água;; Água que nasce na fonte serena do mundo; E que abre um profundo grotão; Água que faz inocente riacho; E deságua na corrente do ribeirão;; Águas escuras dos rios; Que levam a fertilidade ao sertão; Águas que banham aldeias; E matam a sede da população;; Águas que movem moinhos; São as mesmas águas que encharcam o chão; E sempre voltam humildes; Pro fundo da terra; Pro fundo da terra;; Terra! Planeta Água; Terra! Planeta Água; Terra! Planeta Água;; Terra! Planeta Água; Terra! Planeta Água; Terra! Planeta Água;;

Dei especial ênfase ao estribilho: São as mesmas águas que encharcam o chão; E sempre voltam humildes; Pro fundo da terra; Pro fundo da terra... Nessa cadeia da natureza, segue-se com: Água que o sol evapora; Pro céu vai embora; Virar nuvens de algodão...

Mas, a desmedida nossa ganância, seres humanos, fez com que fossemos desmatando, concretando, asfaltando, não dando possibilidade para que haja o ‘encharque’ do chão e, consequentemente, não dando possibilidade para que o sol fizesse o seu trabalho de evaporar, fazer subir aos céus, formar as nuvens e: Gotas de água da chuva; Alegre arco-íris sobre a plantação; Gotas de água da chuva; Tão tristes, são lágrimas na inundação... Água que faz inocente riacho; E deságua na corrente do ribeirão; Águas escuras dos rios; Que levam a fertilidade ao sertão; Águas que banham aldeias; E matam a sede da população...

Que Nosso Criador se compadeça de nós, ingratos seres humanos que pôs em seu paraíso!

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Seca

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