Por que estados tão grandes?
 Quem olha com um pouco de atenção ao atual mapa oficial do Brasil, nota as enormes discrepâncias que existem entre um Sergipe, por exemplo, com um Estado do Amazonas. Ou de uma Paraíba com um Estado do Tocantins – só para citar o último território a ganhar emancipação do antigo mapa originado logo após a independência de 1822. E há de notar também que de lá até hoje muito pouca coisa mudou. Goiás foi dividido em dois ao criar-se o Estado do Tocantins.  Mato Grosso gerou o Estado do Mato Grosso do Sul. E do antigo Amazonas surgiram os Estados do Acre, Rondônia e Roraima. E do Estado do Pará, surgiu o Estado do Amapá.
Acontecera que, ao se tornar independente da Coroa Portuguesa, este país continental chamado Brasil, embora muito rico, era vazio de instituições e escasso de população. Eis que, a não ser numa estreita faixa litorânea que ia do Nordeste e ao  extremo Sul, e no imenso interior alguns bolsões com população indígena – remanescentes do massacre promovido pelos colonizadores, o restante do território era habitado somente por macacos e araras.
Daí que, na época da independência de nada teria adiantado retalhar o mapa, subdividindo aqueles espaços vazios em províncias menores.  Por isso temos o que são hoje os estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso (já subdivididos uma vez) Minas Gerais, Maranhão e Bahia, que, além de a distância entre as comunidades mais afastadas do centro de decisões e poder, ser enorme (mais de mil quilômetros), isso torna praticamente impossível administrar com equidade um grande território.
Entretanto, os tempos são outros. Em 180 anos de crescimento vegetativo da população, somado ao considerável contingente de imigrantes que o país recebeu nos séculos XIX e XX, mais as correntes migratórias internas que proporcionaram a ocupação do Centro-Oeste e da Amazônia, elevaram o número de habitantes dos modestos 20 milhões em 1822 aos cerca de 200 milhões atualmente, estão a exigir um novo redimensionamento no mapa Brasil. E, queiram ou não as forças que detém o poder terão que acatar os anseios das populações destes territórios que sonham com emancipação. Inclusive deste nosso território que é conhecido historicamente como “Além São Francisco”. Mesmo por que, quando foi anexado ao mapa da Bahia em 1824 – através do decreto do imperador Dom Pedro I –  moravam do lado de cá do rio São Francisco ao longo de seus afluentes, cerca de 10 mil descendentes de europeus, que tinham por atividade econômica uma pecuária extensiva. Números estes completados por outro tanto de indígenas, que talvez totalizassem um conjunto de 20 mil habitantes no território da antiga Comarca do São Francisco, no tempo que pertencia à Província de Pernambuco. E hoje, em consequência dos fatores supracitados, vivem e trabalham, neste que pretende ser no futuro o Estado do Rio São Francisco, mais de um milhão brasileiros
E se isso não fosse o bastante, teríamos a considerar que historicamente somos apenas um apêndice, ou um anexo provisório, no mapa da Bahia – em acordo ao o decreto imperial de 1824, que retirou a Comarca do São Francisco da Província de Pernambuco e anexou-o a Minas Gerais e depois à Bahia, como dito decreto rezava: “até que um novo ordenamento das províncias da Nação Brasileira seja realizado.”
 Entrementes, entendemos que este novo ordenamento não depende tão somente da vontade das populações desses territórios – que ao todo somam nove a reivindicar autonomia – mas deverão obedecer aos interesses e desígnios dos governos centrais dos respectivos estados, em comum acordo com o Governo da União.  E estes interesses, a medida em que ditas regiões crescerem em importância econômica e desenvolvimento humano, mais forte será o desígnio dos governos estaduais em obstaculizar  o desiderato preconizado pelo decreto  de Dom Pedro I em 1824. Portanto não vemos no horizonte, por enquanto, o tão ansiado novo mapa deste país continente que ocupa metade  da América do Sul,  ser redesenhado.