Havia dor Naquela Voz.

Liguei, pois o juiz exigiu em respeitável despacho que o senhor apresentasse laudos médicos atuais, já que os juntados aos autos eram do ano de 2012, para o fim da concessão da liminar em mandado de segurança para obtenção de medicamentos do Estado, uma de minhas especialidades como advogado, por mais que na maioria das vezes o faça por caridade mesmo, já que não recebo grande coisa por isso. O Estado paga o 'dativo' o quanto quer e quando quer.

O velho senhor, clavícula estourada, setenta e seis anos, esquálido, atendeu o telefonema chorando, chorando de dor. Dizia que tudo em seu corpo doía e doía muito, e chorava, mal conseguindo falar e ouvir, apenas repetia que tudo doía... doía...

Seu filho o abandonara, partindo para o 'mundo dos impulsos materiais' e ele, viúvo, vive sozinho naquela cama, que se tornou seu lar.

Em dado momento me pediu aos prantos que o levasse ao pronto-socorro, pois queria ser internado, tamanha dor que sentia. Fiz isso e em seguida pedi ao Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito que acreditasse no que estava escrito na peça inicial, pois, dependente do SUS, o requerente não tinha mais condições sequer de se reerguer da cama, quanto mais buscar laudos médicos atuais, que deixasse de lado um pouco a burocracia fria e crua e acreditasse no causídico que aquela subscrevia... Pela dignidade da pessoa humana e cônscio da veracidade do alegado, o nobre fez por bem conceder a liminar...

Dormi um pouco mais tranquilo naquela noite...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 09/12/2014
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