A DOR MAIS DOÍDA.
 
Martelar o dedo, dói. Unha encravada, dói. Bater com a cabeça na porta do armário, dói. Dói pra burro quando seu time perde. Também dói, quando a luz se vai na hora da novela. Dói duas vezes, quando você da dentada em caroço de azeitona e quebra um dente. Dói muito, quando você sonha com um ente querido, que se foi.
A dor é grande, quando se perde o amor que se julgava eterno. A de corno é braba. A saudade dói, mas apenas na medida em que se lamente a perda da oportunidade de mudar tudo. A outra, não; é mansa, doce e faz sorrir, faz-nos vagar em sonhos e agradecer a Deus por ter o prazer de reviver tudo.
 
Imagino que a dor mais pungente seja a que se sente quando se é ludibriado, torpemente enganado por um amigo, quase irmão, no qual depositávamos total confiança.
Ser enganado, dói. A confiança é perdida, o desgosto tem aquele sabor de coisa estragada, de ranço, de mofo. Fica-se naquele torpor, a verdade é tão doída, que amortece, que anestesia e a gente não quer acreditar, quer afastar, como sonho ruim.
Então, caída a ficha, digo que não quero saber se ele vai enganar outros amigos, se seu amor-próprio falará mais alto, se ele vai tomar um porre hoje, se ele vai fingir que está tudo bem, tudo numa boa!, se ele vai ver a novela das oito (também cheia de enganadores) ou se vai ter dor de barriga.
A minha dor, entretanto, essa vai continuar machucando!
 
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(parodiando a crônica “A dor que dói mais”, da cronista e poetisa Martha Medeiros, à qual apresento minhas desculpas pela audácia)
paulo rego
Enviado por paulo rego em 11/12/2014
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