SOUL KEEPER

No começo do blog eu escrevia muito a respeito de filmes. Talvez por timidez em já sair logo de cara expondo meus textos ou discorrendo sobre assuntos pessoais. E desde lá faz muito tempo que não retomo o tema. Hoje, gostaria de escrever sobre um filme que assisti no feriado da Pátria, que foi mais feriado do que Pátria, pois só o que eu queria era descansar de tudo, inclusive da Pátria.

Jornada da Alma é o nome do filme. Na verdade, Soul Keeper, o guardião da alma (ou guardiã, como verão), é a história de Sabina Spielrein, uma garota russa de 19 anos que sofre de histeria grave por um motivo clássico: violência e abuso do pai. Ela é internada em um hospital psiquiátrico em Zurique e atendida pelo jovem médico Carl Gustave Jung.

Jung, aluno e xodó de Freud, experimenta no tratamento de Sabina, pela primeira vez em sua vida, as técnicas de psicanálise ensinadas por seu ilustre professor. Convencido da idéia de que toda cura envolve amor, o médico vai um pouco além das medidas e assim que confere alta à paciente, atira-se de corpo e alma nos seus braços.

E é assim mesmo que acontece. Ele é quem a procura, ele é quem a beija, ele é quem rompe as regras da ética profissional, ele é quem nu e desesperado absorve Sabina inteira para si, buscando na inocência da força dela a sua própria cura.

Sabina duas vezes enlouquece e duas vezes se salva. A primeira por falta de amor e a segunda por causa dele. É como se não fosse o médico que a curasse e sim, ela que o utilizasse como instrumento para fazê-lo. Sabina não precisava de Jung, precisava de um sentido. Jung não precisava de Sabina, precisava sedar todos os sentidos.

Ela, então, desiste de remediar o que não tem remédio e parte para ser uma pioneira na modernização da educação infantil. Até morrer por isso, praticamente anônima, fuzilada por nazistas.

Adoro histórias de mulheres fortes. Principalmente dessas que a História esconde nas brumas do machismo. O filme pode não ser todo ótimo, pode ter problemas no roteiro, pode ter subestimado pontos fortes. Mas revelou Sabina, sua loucura, seu amor, sua surpreendente trajetória na psicanálise, sua força em se desligar do abraço fetal de Jung antes de tudo desabar.

Porque toda cura envolve amor. Amor por si mesmo.

Mulher de Sardas
Enviado por Mulher de Sardas em 15/09/2005
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