ESPIRAIS

Em "O Pequeno Príncipe", Saint-Exupéry assevera que "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Analisando friamente, é uma obrigação extrema, quase perpétua... e durante muitos anos, eu acreditei nesse mantra, inserindo em meu contexto cotidiano a preocupação com aquelas pessoas que amo e que são da minha estima.

Só que, nesse processo, acabei esquecendo a minha responsabilidade com o meu "eu", abstraindo com gestos altruístas a minha própria individualidade... e me culpava severamente por não ter feito mais do que poderia, mesmo que conscientemente sabendo que nada poderia ser modificado.

Mas esse ato masoquista acabou se incorporando a meu cotidiano, ao ponto de não conseguir mais passar um dia sem nutrir lembranças nocivas ou adotar um comportamento exacerbado.

Eu podia estar muito melhor do que estou hoje... mas não me arrependo. Me arrependo sim de cada discussão que tive, por assuntos banais e irrelevantes... e mais ainda por insistir em relacionamentos que, com o passar do tempo, comprovaram que duraram muito mais que o necessário.

Eu estou me recuperando, e simplesmente não quero mais repetir meus padrões antigos - eu sei que não deu certo, e paciência. Se eu quero algo, eu preciso procurar até encontrar aquilo que realmente desejo... é cômodo se contentar com o instante, um momento... mas é perverso imaginar que nada vale tanto quanto o tempo que perdemos.

Eu já me senti em uma espiral, sendo sugado pelo meu inconsciente e pela minha impulsividade para saciar o imediato, quando o que mais quero é simplesmente segurança e tranquilidade. Seria muito fácil eu me embriagar para esquecer, ou me entorpecer para ficar dormindo... mas meus problemas não estariam resolvidos.

Poderia guardar algumas lembranças, mas me abstenho - não quero mais pensar em nomes, rostos e momentos que me remetam ao passado. Não me importo mais... não sou responsável por aquilo que não querem... vivam suas vidas, que viverei a minha... estou feliz hoje, e é o que importa.

SEBASTIÃO SEIJI
Enviado por SEBASTIÃO SEIJI em 12/12/2014
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