TERCEIRA BATALHA DOS GUARARAPES

Batalha dos Guararapes, esse foi o nome dado a um dos viadutos erguidos ao longo da Avenida Pedro I, localizada na região norte da cidade de Belo Horizonte – MG.

Logo após a remoção das estacas provisórias de contenção das estruturas do viaduto, durante a sua construção e após o tempo de maturação do concreto, parte do chamado “tabuleiro” ruiu.

No momento de sua queda um automóvel passava exatamente debaixo do viaduto e um micro-ônibus regional se aproximava, o que obrigou a sua condutora a frear, tendo o coletivo sido envolvido apenas parcialmente.

Quase duas dezenas de pessoas ficaram feridas e duas, o condutor do automóvel e a condutora do micro-ônibus perderam a vida.

Toda a população da cidade ficou estarrecida com esse fato, que teve repercussão nacional e até mundial, devido estarmos em pleno mês de julho e Belo Horizonte ser uma das sedes da copa do mundo.

Perplexidade, angústia e revolta tomou conta dos moradores da região, sobretudo daqueles habitantes dos conjuntos habitacionais vizinhos à obra. Estes não sabiam se houve abalo nas estruturas dos prédios nem como seria o seu futuro, já que a Defesa Civil passou a inspecionar as unidades e havia a ameaça de terem que deixar os imóveis às pressas.

Empreiteiras culpavam os órgãos municipais. Estes, por sua vez, culpavam as empreiteiras e o que se viram foram acusações mútuas e tentativas de esquiva de um e de outro lado.

Diferentemente das duas batalhas anteriores, travadas em meados do século XVII, as quais tiveram como palco os montes e mangues em Jaboatão dos Guararapes - Pernambuco, esta batalha está sendo travada na terceira maior capital da região sudeste e em meados da segunda década do século XXI. Contudo, apenas uma certeza: não haverá vencedores, sairemos todos perdedores.

Encerrados os trabalhos da perícia, estando o que sobrou do viaduto liberado para a demolição e, uma vez tomadas todas as providências acauteladoras por parte dos órgãos da Defesa Civil, é chegada a hora de preparar os artefatos para a implosão das bases de sustentação do “tabuleiro”.

Foi então agendada a data de 14 de setembro de 2014, como aquela em que se colocaria abaixo a malfadada estrutura remanescente.

Abaixo também iria toda uma expectativa de um trânsito melhor e a esperança de que, apesar de todo o transtorno, ruído, desassossego e prejuízos causados pelas obras, a qualidade de vida da população seria melhor após a sua conclusão.

Durante as semanas que antecederam a essa data histórica para a cidade de Belo Horizonte, o assunto que predominava na mídia era a implosão daquela fracassada obra de engenharia.

Conforme minha programação, peguei a minha “magrela” e bati pedal até o local mais próximo possível do viaduto. Avancei até onde me fora permitido chegar e fiquei aguardando o tão esperado e histórico momento da implosão, ou seja, nove horas da manhã.

À medida que o horário ia-se aproximando a emoção tomava conta dos moradores dos prédios vizinhos à obra, que se encontravam dentre os espectadores.

Nove horas em ponto. Ouviu-se um único estrondo e o que se seguiu foi uma densa nuvem de poeira, avançando em todas as direções.

O viaduto já não estava mais lá e o que era concreto, virou pó.

Rafael Arcângelo Machado – 14 de setembro de 2014.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 15/12/2014
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