Pela terceira vez publico esta crônica,não desisto,quem sabe um dia...

Que raios de dia de amor e paz é esse?

 
 Estava no meu carro quando vi a minha frente um caminhão carregado de arvores de Natal. Encostei o carro e fiquei observando as árvores serem jogadas de um lado para o outro, indefesas pareciam amarradas umas as outras a caminho da morte, estavam totalmente fora de seu lugar, era uma imagem surrealista.
Essa visão estragou meu dia. Não é  atoa que não gosto muito de gente.
Não consigo entender, não entra na minha cabeça determinados comportamentos na época de Natal.
Amor é um sentimento que nem todos tem, muitos amam  a Deus,outros os homens , alguns a natureza e os animais, e outros lamentavelmente só amam a si mesmo.
Acompanhe meu raciocínio, meio truncado e falho, porque meu cerebrinho loiro anda cansado e os dois neurônios o Tico e o Teco, já entraram de férias e foram comprar presentes...
Mas vamos lá.
Como é possível alguém amar seja lá o que for, se ao cortar uma árvore acaba por matá-la?
Saem para escolher a que deverá ser assassinada, é revoltante pois sempre é a mais bonita, a mais verdinha,linda cheia de vida,  que levou anos para crescer outras ainda bebê sacrificadas no berço.
Para que?
 Para enfeitar a casa apenas durante alguns dias. É costume reunirem a família para assistirem e participarem de seu sacrifício, até as crianças participam desse ritual sombrio.
Penduram nela tudo que o consumismo manda, a  amarram com fios cheios de lâmpadas que aquecem demais seus ramos e causam doloridas  queimaduras. Toda essa fantasia, só para colocarem presentes embaixo dela,  ironicamente elogiarem sua beleza, para pouco tempo depois coloca-la no lixo!
Ela não deseja nada disso, quer somente que a deixem em paz, não quer  os enfeites, não precisa deles, é bela demais como Deus a fez! Arrancada a machadadas da sua terra, sofre por querer apenas viver no seu próprio ambiente, abrigar os pássaros, as borboletas, dar sombra aos animais.
Respirar livre sem amarras ou estacas, tomar banhos de chuva, de sol e de lua, com seus ramos brilhantes distribuir a todos sua beleza. Purifica com amor o ar para os mesmos homens que a ferem de morte. Tanta maldade e ingratidão, ela não entende, apenas lamenta o destino deles por serem tão inconseqüentes!
Seres abrutalhados que têm a desfaçatez de elogiarem sua beleza e  cantar musicas de amor  e de paz,a sua volta bebendo e comendo até se fartarem.
Ela olha tristemente essas criaturas tão estúpidas que tripudiam sobre a sua lenta agonia.
Se por acaso você tiver uma dessas vítimas em sua casa, levante-se a noite, em silêncio vá pé ante pé, ouvir seus suspiros e ver as suas verdes e sentidas lágrimas escorrerem mansamente...
 
M.H.P.M.