EU E O VICE

Tenho um amigo, de uns 35 anos aproximadamente, muito sofrido pelo alcoolismo crônico que já tentei debelar, mas em vão. Ele é um catador de papéis na minha cidade e no final da tarde, quase todos os dias, se embebeda. Mas é um cara de bom coração. Sempre vai no meu serviço pedir ajuda para comprar alguma coisa para sua casa, e quase sempre acabo dando, apesar das criticas recebidas por muitos, afinal, pensam muitos, ele vai beber. Sinto que quando vai me procurar ele é absolutamente sincero. O apelido vice, vem do dia que me fez a proposta (quase irrecusável) de eu ser vice dele na chapa para Prefeito da cidade. Sempre alegre e divertido o vice vem dia sim, dia não, no meu serviço. Só que na última vez aconteceu algo que nem eu esperava. Ele chegou e de cara me pediu ajuda para comprar arroz. Olhei, penso que pela primeira vez, nos olhos dele e vi tanta verdade em suas palavras que não contive o choro. Evidente que procurei disfarçar, mas fiquei realmente intrigado com aquele olhar. Emocionado falei com ele e, inteligente como ele é, percebeu minha emoção. Para minha surpresa ele me sorriu de uma forma tão verdadeira e me estendeu a mão. Sorriu e falou. Obrigado meu amigo. Senti um misto de alegria e muita tristeza, por não ter conseguido tirá-lo da bebida. Depois desse dia me propus a empenhar-me mais na minha luta com meu amigo vice. Mas refletindo sobre isso, pensando muito, me enxerguei tão pequeno e tão insignificante diante da grandeza desse homem simples, quase analfabeto e com uma força de vida tão intensa que, confessarei para todos, ele sim é um cara de coragem e de fibra. Morar numa cidade que todos somente o enxergam como mais um dos tantos bêbados e mesmo assim conseguir ser tão alegre e tão feliz. Sou obrigado a prestar aqui minhas mais sinceras homenagens ao vice. Ele sim sabe o que é ser homem de verdade, mesmo com a bebida tentando combater tanta fortaleza, sei que um dia ele a vencerá. Obrigado vice pela lição de vida.

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