A NECESSIDADE DE UM PONTO FINAL

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"... sempre tive dificuldade para compreender a extensão da afirmação de Saint-Exupéry.

Acreditava que a responsabilidade imposta pelo conceito de eternidade seria um período demasiadamente longo para uma vida, assim como não compreendia a expressão "cativar" - absolutamente dúbia, visto que possui sinônimos divergentes para uma correta interpretação.

Esse é o problema de analisar algo sobre a ótica estreita da expressão, sem avaliar o conteúdo do contexto em que foi inserido. Comumente, pegamos enxertos de um trecho que, aparentemente, se enquadram com perfeição com aquilo que desejamos projetar, mesmo sendo uma ficção.

Mas no "Pequeno Príncipe", é possível coletar algumas pérolas que auxiliam na busca de uma compreensão sobre a responsabilidade:

"- O amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim em olhar juntos para a mesma direção."

"- Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez tua rosa tão importante."

"- Não exijas de ninguém senão aquilo que realmente pode dar."

"- Em um mundo que se fez deserto, temos sede de encontrar companheiros."

"- Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos."

Apesar de não ser acadêmico, Saint-Exupéry demonstrou uma sabedoria que, infelizmente, muitas vezes não temos a sensibilidade de compreender. Sem cometer o sacrilégio com os ensinamentos de Jesus Cristo, o "Pequeno Príncipe" é uma obra que fala de amor - não aquele romântico, egoísta, mas sim em um contexto mais generalista, aproximando do espírito apregoado pelas religiões seculares.

Para entender algo relativamente simples, é necessário desvincilhar-se dos pequenos equívocos arraigados em nossa personalidade, e nos ater nas pessoas que realmente importam: isso é o essencial, e que nos torna eternamente responsáveis por aquilo que cativamos.

Em um trecho da obra, extraímos a seguinte conclusão: "- Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós."

Como asseverado anteriormente, o amor romântico é idealizado de uma forma quase que esquizofrênica, em que a sanidade muitas vezes ultrapassa o limite do aceitável e, quando ultrapassado, deixam sequelas.

Me arrependo por muitas atitudes que tomei, especialmente porque tinha total consciência dos meus atos, assim como as repercussões. Mas precisava colocar um ponto final em uma história que provavelmente terminaria em uma tragédia.

Fiquei triste ao receber uma mensagem de que "apesar de tudo, não tinha me esquecido"... agi impulsivamente, e desferi outra sequência de grosserias - a única forma de conseguir alguma efetividade na tentativa de desvinculação.

Eu não posso me tornar eternamente responsável pelo que cativei nesse relacionamento: não foi por falta de amar, gostar, atrair... mas simplesmente por atingir meu limite físico e emocional. Eu já tinha um diagnóstico para afastamento, e na esperança de um milagre, insisti... pelo menos jamais carregarei essa culpa na minha consciência.

Esse desabafo é por que acredito que minha ex-namorada ainda continua lendo meus textos... um padrão que posso estar enganado, mas eventualmente esteja certo. Eu não desejo mal nenhum para ela - pelo contrário, tenho lembrança de cada ato e momentos que vivemos. Só que como disse, eu não tinha mais capacidade para suportar.

Não podemos mudar as pessoas, sob o inerente risco de decepção; podemos tomar medidas para modificar as nossas atitudes... mas atingimos um ponto em que contrariamos tanto a nossa natureza, que ela acaba se revertendo contra nós.

Estou encerrando a minha jornada aqui no Recanto das Letras... eu já tive um fantasma transfigurado de amor platônico em minha vida, assim como não quero ser uma eminência parda na vida de ninguém... a minha responsabilidade termina agora, de forma definitiva. Espero sinceramente que seja feliz.

SEBASTIÃO SEIJI
Enviado por SEBASTIÃO SEIJI em 10/01/2015
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