Remoendo rejeições

E ela estava sentada na ponte balançando os pés. Arrancava as folhas do caderno velho uma a uma, lia e rasgava. Depois ficava olhando os pedaços de papel voarem, sumirem entre as árvores ou caírem no riacho.

A medida que lia chorava, enxugava as lágrimas, sorria e rasgava as folhas. Ficou ali horas e horas fazendo aquilo. Até que a irmã mais nova se aproximou.

- Porque faz isso mana?

Ela ainda com os olhos lacrimejados sorriu.

- Cansei de remoer rejeições. Escrevi ali tudo que eu nunca fui, mas que queriam que eu fosse. Escrevi ali toda a beleza que queriam que eu tivesse e eu não tinha... Desenhei ali o corpo perfeito e a grande fortuna que levam ao tal amor. E escrevi, desenhei, rabisquei... Coloquei tudo ali, tudo que eu não sou e quis ser, tudo que eu não tive e queria ter... Mas quando terminei de escrever vi que eu não precisava disso. Eu não preciso ser a mais bela, a mais rica para ter amor... Não preciso de máscaras virtuais. Eu percebi que não queria mais aquilo tudo e me despi de sonhos que pensavam ser meus, mas não eram... Eram dos outros.

E ela rasgou a última folha e ficou olhando os pedaços sumirem com o vento.