Ação Socorrista

Um belo dia, ou melhor, uma bela noite, para não dizer uma má noite, encontrava-me eu e alguns amigos, uns quatro, conversando num bar que ficava na praça central da cidade de Barra do Garças, no estado de Mato Grosso, quando de repente, ouviu-se o barulho da pancada de uma motocicleta que não conseguira fazer a rótula, batendo perigosamente na praça toda em concreto. Sem saber do que se tratava, o nosso papo continuava, enquanto uma cervejinha gelada era servida. Enquanto tomávamos nossa cerveja Antarctica de cada dia, observávamos o aglomerado de gente que se formava nas imediações.

Com o passar do tempo, foi ajuntando grande número de pessoas. Essa movimentação de gente naquela praça chamou-me a atenção. Falei para os meus colegas que iria dar uma averiguada para cientificar do que realmente estava acontecendo com àquele amontoado de pessoas. Ao me aproximar por entre as pessoas, vi que havia uma moça caída no chão como se estivera morta. Observei aquela cena triste e indaguei se alguém vira o acidente? Alguns daqueles que ali estavam informaram-me de que ela, a moça, estava na garupa da motocicleta e que o piloto da mesma, evadira-se do local, deixando-a caída daquela maneira. Perguntei-lhes ainda se alguém sabia quem era àquela moça e quem seriam seus pais? Como ninguém sabia, não pensei duas vezes. Pedi um Táxi e colocando-a no mesmo, levei-a ao Hospital Cristo Redentor que era o mais próximo daquele local. Antes mesmo de procederem o atendimento, crivaram-me de todo o tipo de pergunta. Afinal, eles queriam saber, e ai com toda razão, quem seria o responsável por ela, inclusive pelo pagamento de possíveis despesas hospitalares. Expliquei-lhes de que não sabia nem mesmo o nome dela e nem quem seriam seus pais e que estava ali tão somente para prestar ajuda, já que até aquele momento não tinha aparecido nenhum voluntário predisposto a fazer este tipo de caridade. Resumindo, tive que deixar um cheque caução, que não me recordo do valor, pois esse acontecimento faz mais de vinte anos, porém, recordo-me de que, além da consulta, cobraram-me alguns medicamentos, mas o certo que ao deixar a moça naquele hospital quitara toda as despesas daquele dia.

Fiquei sabendo posteriormente que a moça depois de atendida pelo médico, Dr. Estênio de Almeida Mascarenhas que ainda vive por lá, recobrara os sentidos e certamente a família dela aparecera e tomara conta da mesma. Relembro-me também que passados uns oito dias depois, ia eu andando pela Rua Mato Grosso, próximo ao cruzamento com a Rua Waldir Rabelo daquela cidade, quando ouço alguém que vinha atrás dizer, seu moço? Seu moço? Como eu não entendera o chamado, ela disse, é com o senhor mesmo de camisa azul que estou falando. Não foi o senhor que me levou ao hospital ? Voltei-me de lado e notara que era mesmo a tal moça do acidente, que inclusive, estava com uma perna engessada e usando uma muleta. Continuei andando ao seu lado e de sua colega, enquanto ela me dizia, resido na Vila Santo Antonio e o meu pai quer conhece-lo e inclusive pagá-lo, pelo o que o senhor fez por mim. Respondi-lhe o seguinte: “Moça estou ocupado e com pressa, mas qualquer dia desses terei o maior prazer em conhecer seu pai, mas quanto ao pagamento isso é somente mesmo com você. Não fiz mais que minha obrigação, mas se algum dia na vida você presenciar algum fato como o ocorrido com você, ajude da mesma forma, que eu e o pai lá de cima, ficar-lhe-emos eternamente agradecidos. Você não me deve nada”. Dizendo isto, continuei meu caminhar. Como ela ficara sabendo acerca de minha pessoa não sei, mas imagino que foi o pessoal do hospital quem lhe dissera. Nunca mais vi tal pessoa e muito menos fiquei conhecendo seu pai. Moral da coisa, penso que se todo mundo fizesse sua parte o mundo seria outro e, com certeza, bem melhor.

Amarú Inti Levoselo
Enviado por Amarú Inti Levoselo em 02/06/2007
Código do texto: T510813
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