Aproveite o dia
 
Capitulando-se ao passadismo – sem se afogar nas densas águas da saudade ou nostalgia – buscou-se CDs empoeirados  no cômodo onde se guarda entulhos.

Selecionaram-se três coletâneas: o romântico que espera estar ainda com a amada no próximo inverno, pois ainda é uma primavera anterior; o Maluco Beleza; e a roqueira – ovelha negra da família – que levou a burguesa mãe ao terapeuta por achar que a filha estava perdida de amor pelo tal senhor Rock’n Roll.

Pretendia-se passar ouvindo estas músicas naquela manhã de sábado chuvoso enquanto se fazia uma ou outra tarefa doméstica.

Músicas de outros contextos embalados por ideologias que despertavam as paixões rendidas passivamente ou que levavam às diferentes rebeldias. O importante era superar aquela época e projetar tempos melhores.

Passaria o verão e o outono, chegaria o próximo inverno. Mas o importante é que se estaria amando.

A moda era ser rebelde. Ser  taxada de ‘ovelha negra’ era só questão de ‘status’ entre as novas gerações. Porque no escurinho do cinema estariam reproduzindo os beijos dos filmes clássicos e o Brasil no ano 2000 teria a sua Miss.

E o Maluco Beleza bradava contra a Ditadura Militar: Viva a Sociedade Alternativa!  ...e cantava: “Eu não sou Hippie. Eu sou Punk.”

Havia razões para se manifestar através de melodias e letras. Mesmo assim isto provocava estranheza nas gerações precedentes que estavam acostumadas aos boleros e tangos – músicas de “dor de cotovelos”, como se dizia. Assim como estas fizeram reagir quem valsava aristocraticamente.

Em proporção igual os românticos roqueiros, rebeldes em seus tempos, se sentem surpreendidos com as hedônicas músicas da atualidade que cantam em coro: “Prepara! Que agora é hora do show das poderosas...” ou “Agora fiquei doce, doce, doce...”
...e tudo o que vale é o momento! O antes ou depois não importam.
Vale é o instante e estar alegre e sorridente para as poses das fotos e filmagens dos celulares e as postagens nas redes sociais.

Porque ninguém mais se interessa por questões intimistas que o poeta perguntou: “O que o amanhã me trará?”

Afinal, foram os latinos que ordenaram na antiguidade: Carpe Diem!

Prepare-se para os contemporâneos “Embalos de Sábado à noite”.

Leonardo Lisbôa
Barbacena, 29/11/2013.
 
Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 21/01/2015
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